O Toureio.pt comemora neste mês de Julho 10 anos de atividade continua, para celebrar a efeméride convidou várias personalidades da tauromaquia a comentar estes últimos 10 anos da tauromaquia.
O convidado de hoje é uma das maiores figuras da Tauromaquia Portuguesa, tendo já um descendente a seguir os seus passos, falo-vos do cavaleiro e ganadero Paulo Caetano.
Toureio.pt– O site Toureio.pt nasceu há 10 anos, na sua opinião o que veio acrescentar á tauromaquia portuguesa?
Paulo Caetano –Criar e manter um órgão de comunicação no activo durante uma década é louvável. Naquela altura foi um acto pioneiro que encerrava muita coragem e iniciativa. Parabéns e felicidades para o futuro que espero seja longo.
Toureio.pt– Em seu entender nestes dez anos passados o que mudou e evoluiu na nossa tauromaquia?
Paulo Caetano –À parte da dinâmica técnica e artística dos novos cavaleiros, ganaderos e forcados, não sei se alguma coisa evoluiu, mas penso que muita coisa mudou. Em termos técnicos o toureio evoluiu de forma brilhante e hoje o seu nível artístico e técnico está assegurado pelas novas figuras. Também noto que os Grupos de Forcados estão cada vez mais organizados e a fazer escola. Quanto aos Ganaderos existe uma diminuição do efectivo de vacas, o que pode significar um maior rigor na selecção e um aumento dos preços dos touros, única forma desta actividade e o próprio toureio, continuarem a sobreviver.
Para pior, muita coisa mudou. O aspecto negativo mais destruidor é a falta de reconhecimento pelo trabalho e pelo talento de quem lutou para chegar a figura. Há uma indiferença e uma nivelação que prejudica a motivação para ser um profissional de primeira. Estamos numa época em que, salvaguardando um par de toureiros que vêm de fora, há uma tendência “socializante” na apreciação e contratação de toureiros e ganadarias e isso não premeia o mérito mas sim a mediocridade.
Toureiros e ganaderos que triunfam veem, muitas vezes, esse triunfo ser ignorado nas contratações seguintes. Como se esses êxitos que são normalmente fruto de muito suor e sacrifício, não valessem nada de especial.
Isto é destruidor da moral, da ética e da essência do que é ser profissional do toureio.
Toureio.pt– O que é que recorda nesta década que de mais positivo se passou no nosso País em termos taurinos?
Paulo Caetano –O entusiasmo e a entrega da afición á Festa. Sem preconceitos , com coragem e determinação.
Os Toureiros. Apesar de tudo continuam a lutar para ser alguém nesta complexa arte.
Os Forcados. Baluarte da ligação e do apoio das terras, das famílias , dos amigos á Festa.
Os Ganaderos: Pelo estoicismo de manter uma actividade negativa em termos económicos apenas por amor aos seus animais e ao toureio.
Os empresários que tem feito esforço financeiro apesar da crise.
Toureio.pt– Em relação á forma como é comunicada e divulgada, acha que esta múltipla variedade de informação, principalmente a relacionada com as tecnologias de comunicação é benéfica para a festa brava?
Paulo Caetano –Acho a concorrência sempre bem-vinda pois por definição “aguça o engenho”.
No entanto, no meu entendimento que é apenas de leitor, o “engenho” no caso do jornalismo tem a ver com perspicácia , competência na análise, coragem, diferença e pedagogia.
Se houver muitos órgãos de informação mas nenhum faça a diferença no que diz respeito e estes pontos, então não haverá vantagem na diversidade.
Toureio.pt– Além do comentário ao momento atual do nosso panorama taurino, gostaríamos que nos deixasse também uma antevisão na sua perspetiva daquilo que poderão vir a ser os próximos dez anos no que diz respeito á tauromaquia?
Paulo Caetano –O gosto pela tauromaquia já sobreviveu a muitos ataques ao longo da história. Como tal, acredito que é uma força que nos corre no sangue e não acabará. A questão de fundo é outra:
A próxima década vai ser decisiva para a vida da tauromaquia.
Se o profissionalismo for respeitado e os toureiros e ganaderos se sintam motivados para serem bons profissionais e viverem da sua actividade, como aconteceu nos anos 70, 80 e 90 até 2000, então teremos uma Tauromaquia com a importância económica e social que teve nas épocas que atras referi, o que lhe permitirá uma posição cultural que assegure a defesa activa e permanente contra os ataques anti taurinos.
Se por outro lado, se continuar a tendência para transformar esta profissão num hobby em que os toureiros terão de ter outras fontes de rendimento para poderem fazer aquilo para que sentem vocação, então teremos, num futuro próximo, uma Festa reduzida, minimizada, que funcionará como uma pálida demonstração do que terá sido o toureio de outras épocas. Nesse caso, nem os Anti Taurinos se irão preocupar pois o fenómeno taurino já não terá expressão nacional.
Toureio.pt– Que mensagem quer deixar nestes 10 anos de Toureio.pt?
Paulo Caetano –Gostaria que cada um dos agentes da Festa tomasse consciência do seu papel e da responsabilidade que deverá ser assumida na área que lhe diz respeito. A tauromaquia é um tabuleiro de xadrez com diversas peças e todas elas devem saber qual deverá ser a sua movimentação.