Quarta-feira, Dezembro 4, 2024
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A cultura do povo e as culturas do poder

Mais uma vez, nós, agentes da Festa não temos muito que nos queixar dos outros mas sim de nós mesmos.

Por vezes falta-nos o querer dos Forcados e a profundidade dos Toureiros.

Não sei o que vai no segredo dos deuses onde a Protoiro se mexe, mas temo que sejam segredos de polichinelo.

Os agentes de espectáculos de cultura foram chamados ao primeiro-ministro para se discutirem as políticas de regresso das actividades culturais. Posso estar enganado mas não vi por lá ninguém da tauromaquia. Será que não está já na altura de alguém “com voz grossa” dizer presente e lembrar, com o devido respeito pelos profissionais do ramo, que o povo também quer saber quando pode retomar o seu acesso aos actos culturais que elegeu como seus?

É certo que os prejuízos dos agentes da festa já são enormes e devem e merecem ser apoiados mas os aficionados também merecem uma palavra de conforto.

Nesta altura, estudando-se as condições de retoma do futebol e da volta à normalidade possível de algumas actividades culturais, quanto à tauromaquia, nem um piu!

Destas actividades que se estão a preparar para recomeçar as suas faenas, vem gente às televisões dar a cara e aparecem no pequeno ecrã não sei quantas vezes.

Alguém da Tauromaquia chamou as televisões para lhe dizer da sua indignação?

Que raio, mas as figuras que de um modo geral são pessoas influentes nas suas regiões, não são capazes de dar uma palavra de desagrado aos deputados eleitos por eles. É que nas campanhas eleitorais é sempre com prazer e proveito que se vêem nos jantares de apoiantes, figuras do mundo da nossa festa, quer sejam toureiros, ganadeiros ou forcados. As nossas gentes ficam sempre bem nas fotos como troféus, e a outra face da moeda? Onde estão as contrapartidas pelas ajudas prestadas? As figuras da festa só servem para enfeitar? E prestam-se a isso? Não estava na hora de lhes pedirem contas no que tem a ver com os apoios pedidos? Ou foram dados sem nada ser questionado? E os deputados que foram eleitos com votos ganhos com o apoio das gentes da festa, sentem-se confortáveis?

Dá a ideia que há algumas formas de cultura que são aceites pelas elites e outras que, sendo de raiz popular são rascas e que não merecem ter a mesma importância que as restantes formas culturais.

Se calhar, estas são mais genuínas, mais perto das raízes populares e mais abrangentes no que ao povo português diz respeito e é por isso que os snobes não as entendem. É preciso descer ao nível das bases para entender o sentir desta gente e quem se recusa a fazê-lo fica no degrau de cima, dando sentenças acerca de como os outros devem pensar. Já houve tempos assim, onde até nos diziam o que tínhamos que pensar mas já lá vão anos de mais. Somos donos dos nossos narizes e exigimos ser respeitados. Quem não se revê nestas manifestações culturais também não deve representar os eleitores e muito menos governar.

Uma ministra da cultura não deve seleccionar as culturas, umas como boas e outras como más, conforme o seu gosto pessoal. Elas existem e devem ser respeitadas como tal.

Vem da Declaração Universal dos Direitos do Homem que este deve ser respeitado, seja qual for a sua cultura, sexo ou cor. Respeitemos a Declaração Universal dos Direitos do Homem e não estigmatizemos quem não pensa como nós!

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