A ganadaria Murteira Grave foi uma das triunfadoras da temporada, na eleição levada a cabo perante os leitores e aficionados do Toureio.pt.
No início desta semana publicámos a primeira parte de uma grande entrevista a um dos mais prestigiados ganadeiros português. Na primeira parte Joaquim Grave faz o balanço da temporada 2017 da ganadaria Murteira Grave, deixa as suas expectativas para 2018 e ainda explica como faz a selecção das reses na ganadaria. Uma primeira parte que pode ler aqui.
Esta quinta-feira, mostramos-lhe a segunda parte desta grande entrevista onde o conhecido ganadeiro fala da relação entre o turismo e a Tauromaquia, da sua faceta de empresário e ainda comenta o estado actual da tauromaquia.
Toureio.pt (T) – Para os grupos organizados que queiram ter um dia diferente na Galeana, diga-nos o que pode ser desfrutado num dia de visita?
Joaquim Grave (JG) – Quer para grupos organizados ou grupos mais pequenos a estrutura da visita é a mesma. Os visitantes chegam a meia manhã, serve-se um aperitivo de boas vindas onde o ganadeiro introduz e explica o que se faz, como e quando se faz na Galeana. Seguidamente, inicia-se a visita ao campo, onde se podem observar vários grupos etários de animais, desde, bezerros, novilhos, toiros, lotes de vacas com o semental, etc. Regressa-se ao Monte para um almoço numa casa emblemática da ganadaria e onde também há uma visita à sala de troféus ou museu se quiser.
T – Consideram que esse lado turístico da festa brava deveria ser melhor explorado?
JG – Claro que sim, deve ser explorado. O toiro bravo é um animal único que desperta paixões e emoções de vária ordem. Tem uma vida privada no campo que dura 4 anos e é desconhecida para a grande maioria dos aficionados. Tudo o que possa aumentar o conhecimento da vida dos toiros, como se alimentam, como se relacionam com os seus congéneres, como lutam entre si, é muito útil e bom para a bagagem de um aficionado. Só se ama o que se conhece.
Não estamos a cuidar o futuro e isso é lamentável
T – Considera também que na festa brava em Portugal há uma falta de visão, de forma a haver novos projectos, fórmulas mais inovadoras de desenvolver a Tauromaquia e tudo o que a envolve?
JG – Sim, de certa forma penso que sim. Também não quero cair na “fórmula” habitual de que está tudo muito mau. Às vezes é difícil fazer melhor com as condições que há, no entanto considero que ao nível da publicidade e dos estímulos de certo tipo de público para ir aos toiros há muito por fazer. Por exemplo, nas praças com boas lotações deveria haver um número grande de entradas grátis aos jovens. Não estamos a cuidar o futuro e isso é lamentável. Não tenho dúvidas de que se Mourão tivesse 5 mil lugares, haveria 500 lugares grátis para jovens até aos 15 anos.
Deveria ser realizado um estudo para saber que público vai aos toiros, o numero, as suas preferências, o que os motiva, etc. Não sabemos ao certo qual o publico alvo que devemos sensibilizar.
T – Falando agora de outro assunto, nos últimos anos têm também apostado na organização de espectáculos, nomeadamente na castiça praça de Mourão, nota-se que são espectáculo que lhe dão gozo fazer, porquê?
JG – Sim, dão-me muita satisfação. Vivo no concelho de Mourão e sinto muito aquela praça tão especial. Confesso que me dá satisfação a montagem dos cartéis assente no desejo de proporcionar ao público desfrutarem de matadores de diferentes mas todos com qualidade. Hoje há uma certa uniformidade nos estilos dos toureiros a pé e em Mourão contrario um pouco essa tendência ao contratar especificamente toureiros de sensibilidades diferentes.
T – E agora diga-nos o que é mais difícil, ser ganadeiro ou ser empresário?
JG – Bem posta a pergunta! São as duas difíceis, pergunta-me qual a mais difícil! São muito diferentes, ser ganadeiro implica uma série de atributos entre os quais destaco a perseverança, a paciência, a humildade, a entrega apaixonada embora revestida de sangue frio, isto tudo com um conhecimento da história ganadeira, do toiro e da própria tauromaquia, leia-se toureio para saber a dinâmica e evolução da Festa. Não pode embandeirar em arco com os triunfos, nem desanimar com os fracassos. É muito difícil porque, como já disse, o público-alvo é restrito e a competição entre os colegas é apertada.
Ser empresário, já implica outro tipo de atributos como a imaginação, uma sensibilidade para saber os gostos da praça que gere, esta questão é fundamental. Ser empresário requer ter uma boa equipa a trabalhar e estar muito atento á evolução de todos os toureiros do escalafón. E já agora um instinto comercial apurado.
T – Para 2018 já definiu como irá abrir a temporada 2018? Já algum toureiro contratado para Mourão?
JG – Sim, os cartéis de Mourão estão praticamente fechados. Já anunciei o Curro Díaz para dia 4, o resto será conhecido como costume no primeiro dia do ano. Considero que são cartéis muito interessantes, tendo o do dia 4 uma mistura bem conseguida de toureiros de arte com alguma veterania com figuras emergentes de grande projecção e futuro.
Sinto em vários agentes da Festa falta de profissionalismo.
T – Falando agora um pouco no geral como analisa o actual momento da tauromaquia em Portugal?
JG – Faltam figuras jovens com poder de bilheteira. Não tem havido renovação do escalafón. Sinto em vários agentes da Festa falta de profissionalismo.
A Festa não vive dos aficionados, vive do público em geral que paga bilhetes
T – Acha os aficionados portugueses devidamente conhecedores da festa?
JG – Os aficionados portugueses, sendo poucos, são conhecedores da Festa embora demasiado pragmáticos para o meu gosto. Mas isso pouco importa, a Festa não vive dos aficionados, vive do público em geral que paga bilhetes. Os aficionados normalmente vão ás corridas para julgar! O público em geral vai para divertir-se, desconhecendo os canones são eles que dão vida a uma praça de toiros. Costumo dizer que uma corrida vista só por aficionados deve ser uma maçada incrível…
T – A festa precisa de sangue novo?
JG – Sim, como todas as actividades artísticas precisam de gente nova, mas atenção não dispensa os veteranos!
T – O que é necessário alterar rapidamente na tauromaquia nacional?
JG – Por exemplo redução do tempo de duração da corrida em pelo menos vinte minutos a meia hora. Mais profissionalismo nos agentes taurinos. E, mais que defender a Festa devemos explica-la, ensiná-la.
O público tem de, ao ver anunciado a ganadaria, saber que serão toiros ou novilhos de boa apresentação independentemente de serem bravos ou não
T – A ganadaria Murteira Grave foi a ganadaria Triunfadora Toureio.pt 2017 na escolha dos leitores. Qual a importância deste reconhecimento?
JG – É uma sensação agradável, sobretudo porque a escolha vem do publico e não de um júri restrito. É mais um estímulo para continuar. A marca Murteira Grave tem já 73 anos (Fundação em 1944) e, sem falsas modéstias, julgo que conquistou um prestígio assente na garantia que o público tem de, ao ver anunciado a ganadaria, saber que serão toiros ou novilhos de boa apresentação independentemente de serem bravos ou não. E isso não é fácil e é caro!
“Aqueles que focam a sua atenção só no toureiro, só vem metade da corrida…”
T – Que mensagem quer deixar aos leitores do Toureio.pt?
JG – Que continuem a ir aos toiros sem preconceitos na cabeça, que peçam a cada toureiro o que de melhor ele tem para dar, que desfrutem da coragem dos toureiros e de como eles suplantam as dificuldades que os toiros lhes colocam e que desfrutem igualmente da bravura dos toiros, um autêntico milagre zootécnico.
Não percam nunca de vista o toiro. Aqueles que focam a sua atenção só no toureiro, só vem metade da corrida… Os que não perdem de vista o toiro, vêm o toiro e as sortes que os toureiros lhe fazem. Vêm tudo!