A propósito da ingratidão, fui associar-me á homenagem mais que devida a um Grande do toureio a cavalo de Portugal, o Mestre Joaquim Bastinhas, e o palco não podia ser mais apropriado para tão significativo acto, a praça do Campo Pequeno, Catedral do toureio no nosso País.
Ia com enorme expectativa, mas depressa fiquei desiludido, não era aquela a moldura humana que eu imaginara para prestar a justa homenagem àquele que nos deu momentos de verdadeiro entusiasmo e nos bordou faenas memoráveis, e que dedicou a sua vida a projectar e a viver esta arte que continua a apaixonar-nos.
Choca-me ver a pouca importância que damos ao que é nosso, a forma como desvalorizamos quem foi um expoente e uma referência do nosso toureio.
Fiquei feliz por ver a forma como os presentes acarinharam os familiares do Mestre Bastinhas, muito na pessoa do seu filho Marcos Bastinhas que se transcendeu em duas soberbas lides dedicadas a seu pai, mas…olhando ao meu redor vi tantas pessoas, tantos aficionados que primaram pela ausência que não compreendi, afinal se dentro do nosso meio chegamos ao ponto de dizer mal de tudo e de todos, sem apresentar propostas construtivas para ajudar a promover a Festa, se continuamente nos ausentamos das praças de toiros, qual o nosso papel?
Apenas estamos a favorecer quem nos ataca! Será este o caminho?
Transladando-me á Feria de San Isidro, que decorre actualmente na Monumental de Las Ventas, em Madrid, com a importância de ser a feira de maior destaque do universo taurino, não consigo compreender o pouco entusiasmo do público que em grande número acorre todas as tardes ao “coso” da capital espanhola.
Por vezes, este fica estranhamente apático e não pede as orelhas com a força necessária?
Égritante o seu desinteresse face aos toureiros presentes em cada corrida (consagrados e jovens matadores em busca de uma tarde de glória, a dar o seu melhor, arriscando a própria vida em cada corrida perante toiros muitas vezes sem casta e sem bravura), protestando por tudo e por nada sem o mínimo respeito pelos artistas, em vez de os incentivar a conseguir boas faenas.
Os próprios Presidentes da corrida que deveriam ser justos e conceder os prémios mais que merecidos, não decidem assim ou não ouvem o público e não o respeitam, quando com lenços na mão pede os triunfos.
A corrida deve ser feita de alegria, e de participação, negar o prémio merecido pode ser uma grande injustiça que vai penalizar não só os artistas, mas também o público que é quem mantém a festa e é o seu principal garante. Presta-se um mau serviço á Festa, e comete-se um agravo que provoca o desencanto e vai afastar os aficionadosdas corridas, ajudando assim aqueles que são contra a Tauromaquia.
Profunda ironia: são principalmente os de dentro que deveriam defender e promover a nossa cultura com decisões acertadas, que promovem o contrário.
Os antitaurinos agradecem!
Permitam-me referir a excelente defesa da tauromaquia feita no programa da TVI “Deus e o Diabo” pelo porta-voz da Prótoiro, Hélder Milheiro em confronto com um representante de um denominado grupo antitaurino de Santarém (á procura de projecção mediática…), em relação ás corridas que irão ter lugar na capital ribatejana. Com uma argumentação clara e concisa ele conseguiu rebater todos os chavões utilizados pelo opositor, que utilizou os já habituais e estafados pontos de vista eivados de fundamentalismo, comuns a todos as organizações e partidos que são contra a nossa cultura.
Marcámos pontos!
Nós sempre alertámos para o perigo latente que era menosprezar quem nos ataca, neste caso aqueles partidos que são contra a tauromaquia como o PAN e o Bloco de Esquerda e, aqueles outros que embora tendo no seu seio quem nos defenda, prosseguem politicas e têm atitudes profundamente discriminatórias em relação a tudo o que é cultura taurina. Vejam-se as últimas afirmações do Primeiro- Ministro, ou da Ministra da Cultura e o seu posicionamento contra nós, ou o caso/mau exemplo/falta de respeito do Presidente da Câmara de Lisboa em relação ao tão falado contrato existente entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Casa Pia sobre o número de corridas anuais estipuladas para o Campo Pequeno…
Finalizando e porque é justo referi-lo, senti-me orgulhoso por fazer parte de uma terra e de uma gente com uma identidade cultural muito própria, que continua a cultivar o seu direito á diferença e privilegia a sua cultura em cada momento da sua vida colectiva enquanto povo. Refiro-me claro, ao facto de a minha terra, Barrancos, ser a única em que nas últimas eleições europeias o PAN não teve nenhum voto, partido este, que não respeita a diversidade cultural, mas que quer impor a sua própria visão de uma sociedade padronizada segundo o seu próprio modelo em que se crê dono da verdade e não admite qualquer pluralismo democrático.
Uma vez mais mostrámos ao País, que sabemos defender o que é nosso, outros que dizem gostar da festa de toiros deveriam seguir o nosso exemplo.
Não podemos continuar a votar em quem nos ataca, isso é dar trunfos ao inimigo e comporta mesmo uma boa dose de ingenuidade e parvoíce, direi mesmo em bom alentejano “não há pachorra”!