João Pedro Oliveira, é o Cabo do Grupo de Forcados de Évora, este que foi eleito pelosnossos leitores e aficionados como o Grupo triunfador da temporada 2017.
Deste modo e como temos vindo a fazer com todos os triundadores, João Oliveira aceitou o nosso convite de nos conceder uma entrevista onde abordou a temporada do grupo , bem como os momentos dificies passados pelos forcados aquando das mortes de dois forcados, abordando ainda os temas “quentes” da Associação Nacional de Grupos de Forcados, bem como o que ainda falta fazer na tauromaquia, a opinião do actual momento da festa brava e ainda sobre o seu lado mais pessoal e como foi a sua chegada a cabo dos Amadores de Évora.
Toureio.pt (T) – João, começo esta nossa conversa por lhe pedir que faça um balanço à temporada 2017 do Grupo de Forcados Amadores de Évora…
João Pedro Oliveira (JPO) – A temporada 2017 foi para o Grupo de Évora uma temporada muito positiva, diria que daquelas que idealizamos, sendo que há sempre aspectos a melhorar quando a exigência é máxima sobre a jaqueta que envergamos. O Grupo fez um total de 21 corridas, com presença nas principais feiras taurinas, duas vezes no Campo Pequeno, e mesmo sendo um grupo maioritariamente jovem mostra muita solidez o que dá indícios de um futuro risonho, prova disso foram as várias distinções que recebemos esta temporada.
T – Esta temporada em que o grupo teve dois comandos, na primeira parte pelo António Alfacinha e na segunda pelo João. Houve diferenças? Ou as linhas condutoras do comando são as mesmas?
JPO – Há sempre diferenças, até porque cada cabo tem a sua maneira particular de comandar o grupo, mas o mais importante é sem dúvida a linha condutora, a matriz do grupo e essa é intocável e inviolável. O ser fiel a essa linha condutora é aquilo que nos faz andar há mais de 50 anos a pegar toiros de forma ininterrupta. Vivi claramente isso com o António Alfacinha enquanto cabo e será assim no tempo em que estiver à frente dos destinos do Grupo de Évora.
T – Foi uma temporada muito dura em termos de lesões dos seus forcados?
JPO – Felizmente não houve lesões graves. Existiram pequenas lesões normais desta actividade mas que não deram preocupações alarmantes.
T – Quando foi a melhor corrida do grupo?
JPO – Destaco quatro momentos: Corrida de Maio em Montemor-o-Novo, São Pedro em Évora, a corrida em Abiul e as duas actuações no Campo Pequeno.
Preferimos ter a distinção de melhor grupo do que a de melhor forcado/pega, porque somos anunciados e contratados como grupo e não em nome individual.
T – E se tivesse de eleger a melhor pega, qual seria?
JPO – Numa temporada que correu tão bem ao grupo na sua generalidade é ingrato nomear uma pega, até porque é difícil. Preferimos ter a distinção de melhor grupo do que a de melhor forcado/pega, porque somos anunciados e contratados como grupo e não em nome individual.
T – E já agora qual foi o pior momento do grupo este ano?
JPO – Não há piores momentos, existem sim os que correm menos bem e com eles também aprendemos. Como se costuma dizer para sabermos o que é bom temos de provar o mau e neste sentido a Corrida do Concurso em Évora fez-nos crescer para uma boa temporada.
T – Mas considera que a moral do Grupo este ano esteve em alta, a que se deveu?
JPO – É verdade que o Grupo vive um bom momento, mas nem sei bem o que lhe responder, acho que se deve a muitos factores, muitos deles até são pequenos pormenores que depois fazem a diferença e nem damos conta. Uma paixão enorme ao grupo, dedicação e uma grande amizade fazem a diferença.
A morte está ali mesmo ao nosso lado quando saltamos a trincheira para pegar um toiro!
T – 2017 fica sem duvida marcado pela morte de dois forcados. A festa é marcada pela glória e pela tragédia. Como forcado, como viu estes acontecimentos? E sentiu que os seus forcados também ficaram sensíveis com estes acontecimentos?
JPO – Infelizmente o falecimento prematuro do Pedro Primo e Fernando Quintella, foram dois acontecimentos que marcaram a temporada. Fez-nos pensar que afinal a morte está ali mesmo ao nosso lado quando saltamos a trincheira para pegar um toiro. A tentativa de pega do Pedro não vi presencialmente, a do Fernando vi pois dividíamos cartel com os Amadores de Alcochete no dia 15 de Setembro na Moita, dia este que irá ficar para sempre na minha memória pela amizade que tinha ao Fernando.
É óbvio que eu e todo o Grupo de Évora nos ressentimos depois destes acontecimentos, ainda para mais no caso particular do Fernando, em que estivemos presentes na última corrida com o Fernando e na primeira corrida sem o Fernando, juntamente com os nossos amigos do Grupo de Alcochete. A força que eles tiveram para voltarem todos juntos a vestirem-se de forcado é motivo de orgulho e motivação para qualquer forcado que se sinta. Foi essa motivação que passei a todos os elementos do meu grupo que não poderia existir maior motivação do que essa, de voltar a fazer aquilo que tanto gostamos, lembrando que o Pedro e Fernando deram a sua própria vida em detrimento de serem forcados e que não existia melhor forma de os homenagear sem ser da forma que partiram ou seja a pegar toiros.
T – Falemos agora de 2018, que expectativas tem para a próxima temporada relativamente ao Grupo de Évora?
JPO – As expectativas são altas ainda para mais quando na próxima temporada o Grupo comemora 55 Anos de existência. Depois de uma temporada bem-sucedida, aguarda-se uma temporada preenchida e que seja digna da data que comemoramos.
T – Já existem alguns espectáculos apalavrados ou até mesmo certos? Se sim, quais?
JPO – Já existem alguns espectáculos “apalavrados” sim, certos só no cartel e vamos deixar essa parte para as empresas taurinas pois como promotoras do espectáculo, é do seu direito apresentar os cartéis em primeira mão, sem que haja precipitação dos intervenientes contratados.
T – Qual vai ser a principal mensagem que ao longo dos treinos de preparação da temporada vai transmitir aos seus forcados?
JPO – Boa pergunta, ainda não pensei muito sobre a mensagem que vou passar. Sei sim, que a preparação é a base de tudo, quantos mais preparados tivermos maior é a probabilidade de atingir o sucesso. Acho que o mais importante é incutir o sentido de pertença ao Grupo de Évora e a sua responsabilidade e importância, tudo o resto vêm por acréscimo.
T – Se me permite agora falemos do João Pedro enquanto novo Cabo dos Amadores de Évora, quando tomou as rédeas do Grupo, quais foram as suas principais dificuldades?
JPO – Olhe foram várias, a principal foi ter a percepção exacta que a partir do momento que assumia a função de cabo todo o grupo dependia das minhas decisões. Não digo que fosse uma dificuldade, mas foi certamente o maior desafio, ter a noção que a partir de Junho 2017, a minha vida ganhava um novo rumo, que agora não dependia só de mim pegar o toiro mas ter de conjugar um grupo de 40 pessoas e mais as centenas de antigos elementos, famílias e amigos que fizeram do Grupo aquilo que ele é hoje. Mas Graças a Deus sou um privilegiado por ter um grupo de forcados, onde todos somos amigos e me ajudam constantemente.
O respeito não se exige, conquista-se
T – Houve dificuldades em impor as suas decisões a um grupo em que na sua maioria são da sua idade?
JPO – Isso é uma pergunta para todos os actuais do grupo. A meu respeito não senti dificuldades, é normal quando a maioria é toda da mesma idade que exista um maior á vontade com o cabo, o que para mim até é saudável, desde que exista a ponderação certa para cada um perceber o momento certo quer seja de seriedade ou de brincadeira. No meu entender quem olha para um grupo e naturalmente vê o seu cabo não olha para a sua idade mas sim para os seus gestos ou atitudes. O respeito não se exige, conquista-se e disso não tenho a menor dúvida.
T – E agora diga-nos o que é mais difícil ser cabo de um grupo de Forcados, ser político ou ser jornalista?
JPO – O nível de perguntas está a ganhar complexidade Hugo, vou ser sincero a minha passagem política até ao momento foi como Mandatário da Juventude nas Autárquicas deste ano, que já terminou e do qual tive muito gosto em fazer parte, como jornalista dei os primeiros passos e apesar de ser formado na área não tenho carteira, veremos o que dirá o futuro… Todas essas posições são exigentes e impõem seriedade, por enquanto a que mais dificuldades me dá é o ser cabo do Grupo de Évora pela sua história, a tese de Mestrado que tenho para investigar e escrever e o projecto profissional que irei ingressar em breve.
T – Ainda voltando ao falecimento dos dois forcados esta temporada, na sua opinião que medidas podem ser tomadas para evitar ao máximo estas situações?
JPO – Numa entrevista recente ao site Tauronews disse qual era a minha posição em relação a este tema. No meu entender o regulamento taurino deve ser seguido minuciosamente e se estiver dúbio então tem de ser alvo de revisão pelas entidades competentes. Se assim for o risco de acontecimentos trágicos diminui substancialmente. Porque infelizmente foi preciso acontecer o que aconteceu para se tirarem umas primeiras ilações.
T – Também considera que há enfermarias a funcionar em algumas praças de touros sem condições nenhumas e a colocar em risco a vida de quem pode dela precisar?
JPO – A resposta a esta pergunta está inteiramente ligada ao que disse na questão anterior.
T– Os forcados são bem tratados na tauromaquia por parte dos empresários?
JPO – Do pouco tempo que tenho como cabo, não tenho nada a apontar a todos os empresários que contrataram o grupo para pegar. Todos eles deram a sua atenção e devido respeito ao Grupo de Évora.
Todos nós sabemos que isso acontece mas ninguém dá a cara, ninguém se compromete.
T – Em várias assembleias gerais da ANGF fala-se muito em grupos de forcados que "pagam" para pegar. Como vê essa situação? Isso acontece mesmo? Como pode ser evitado?
JPO – Se isso acontece não sei, apenas desconfio, até porque se soubesse era o primeiro a denunciar por não me rever em tal situação. Se reparar nas entrevistas que estão a ser feitas aos vários cabos dos grupos de forcados, todos eles falam dos “grupos que estão a mais”, “os grupos que não andam como deviam de andar”, etc.. É uma situação delicada, que exige provas concretas de que isso acontece para se provar e principalmente para que dentro da ANGF possam ser tomadas medidas. Todos nós sabemos que isso acontece mas ninguém dá a cara, ninguém se compromete. Acredito piamente que essa situação irá acabar por várias situações, o dinheiro não é infinito quando não há retorno, os toiros metem tudo no sítio e a imagem que um grupo passa conta muito para a sua continuidade. Posto isto ficam os de verdade, os honestos, os que andam por bem e apenas querem honrar o bom nome do seu grupo.
T – Outro dos assuntos que muita polémica tem dado é os seguros dos Forcados, na sua opinião como poderia este assunto ser resolvido?
JPO – Nesta situação não creio que seja a Direção da ANGF a ter a máxima responsabilidade sobre o tema, deve sim auxiliar. Cabe aos grupos de forcados também arranjar soluções viáveis para os seus grupos e se possível apresentar essas propostas em Assembleia Geral.
T – Acha que a arte do forcado é valorizada e suficientemente conhecida pelos aficionados?
JPO – Não tenho dúvidas sobre isso, basta falar com um mero aficionado ou até mesmo um leigo da tauromaquia para na resposta do que mais gosta numa corrida de toiros à portuguesa, a escolha recair sobre a pega e os grupos de forcados. Não estou a dizer que os restantes intervenientes não são valorizados, até porque admiro muito o toureio a cavalo e apeado, mas que o público português no geral gosta da “parte da pega” isso acho que é uma verdade incontestável.
Acho que o aficionado se cansou de ver um espectáculo monótono
T – Como analisa o actual momento da tauromaquia em Portugal?
JPO – O momento actual da tauromaquia em Portugal pauta-se pela exigência do aficionado, na minha mera opinião acho que o aficionado se cansou de ver um espectáculo monótono, como dizia alguém “assim que vejo o cartel já sei o que se passou e ainda nem fui a corrida”. Houve este ano corridas arrojadas e inovadoras que tiveram um grande impacto e nisso é preciso congratular os empresários pela montagem desses cartéis, que assim continue.
T – Acha os aficionados portugueses devidamente conhecedores da festa?
JPO – Isso depende do conceito de aficionado, acho que é difícil encontrar alguém que perceba ao detalhe de todas as sortes do toureio a pé, a cavalo ou pegas e simultaneamente ter um conhecimento avançado sobre a morfologia e comportamento de um toiro. É um processo de constante aprendizagem.
Mas como disse anteriormente a exigência do aficionado está aos olhos de todos, é mais selectivo no tipo de corridas que quer ver e depois de estar na corrida quando não gosta protesta e quando gosta aplaude. Esta exigência mexe não só com os empresários mas com todos os artistas para que se apresentem ao melhor nível, por isso acredito que a Festa do Toiros está bem viva e a tendência é para melhorar, porque no final quem manda é o público.
T – A festa precisa de sangue novo?
JPO – Não sei se é de sangue novo, até porque os que lá estão tem o conhecimento de anos de trabalho em prol da tauromaquia, aliar essa experiência a ideias inovadoras é um caminho para cativar novos públicos.
T – O que é necessário alterar rapidamente na tauromaquia nacional?
JPO – Concordo a 100% com uma expressão cada vez mais usual no meio taurino que diz que a tauromaquia mais do que a defender precisa de ser ensinada. A sociedade e todos os seus sectores estão em constante mudança nos dias de hoje, por isso acho imprescindível que a tauromaquia mantendo o seu cunho tradicional opte por novos meios de comunicar e promover, certamente que mais aficionados iriam surgir.
T – Os Forcados Amadores de Évora foram um dos triunfadores Toureio.pt 2017 na escolha dos leitores. Qual a importância deste reconhecimento?
JPO – Uma importância muito grande, é sempre bom ser reconhecido principalmente quando se fala de uma votação pública onde votaram 3564 eleitores e cada aficionado registou o seu triunfador. Ao Toureio.pt agradeço esta entrevista e o vosso trabalho de pura paixão ao longo de 13 anos.
T – Que mensagem quer deixar aos leitores do Toureio.pt?
JPO – Aos leitores do Toureio.pt agradeço em nome de todo o Grupo de Évora o vosso voto e oxalá em 2018 possamos voltar a estar nesta distinção é sinal que o nosso trabalho foi reconhecido e bem feito.