Em noite fresca e ventosa, realizou-se a corrida das Festa de Samora Correia, em Honra de Nossa Senhora da Oliveira e Nossa Senhora de Guadalupe.
Sob a direcção de Lourenço Luzio com assessoria do veterinário José Luís Cruz realizou-se a corrida que foi de despedida de um dos grandes forcados do nosso tempo: João Machacaz.
Dado que começou nos Amadores do Ribatejo, onde chegou a cabo do grupo, tendo depois passado para os Amadores de Alcochete, onde era um dos seus mais destacados membros neste momento, estas duas formações, capitaneadas respectivamente por Pedro Espinheira e Nuno Santana, prestaram-lhe a sua homenagem estando presentes no cartel.
Para tourear o curro de Prudêncio, vieram Filipe Gonçalves, Miguel Moura e Verónica Cabaço.
Os toiros vinham irrepreensivelmente apresentados, quer de cabeça quer de carnes e comportamentos, sem crenças e sempre disponíveis para a luta dando boas lides e boas pegas.
A praça estava lotada por completo.
É bom ter assistido em poucos dias a três casas cheias, duas em Alcochete e esta em Samora Correia. Parabéns aos aficionados.
Filipe Gonçalves, o cavaleiro mais velho de alternativa, abriu praça enfrentando um Prudêncio a que foi atribuído o peso de 555 quilos. Sempre dando a primazia ao oponente, começa a lide com dois compridos a abrir, depois nos curtos toureia a quarteio carregando as sortes e começam a ouvir-se os primeiros aplausos; volta a mudar de montada e crava mais dois ferros com os quarteios menos marcados e consequentemente chega menos ao público, por fim com mais uma mudança de montada os quarteios ainda são mais largos parecendo mais sortes à tira, um palmito encerra a função, mas em qualquer circunstância sempre dando a vantagem ao toiro, na hora da investida. Sempre com verdade.
Para pegar este toiro saiu Pedro Espinheira, cabo dos Amadores do Ribatejo tendo sido o substituto de Machacaz nesse cargo. Espinheira brinda ao homenageado.
Bem a citar, bem a recuar e reúne no seio do grupo. Pega eficaz.
Volta para cavaleiro e forcado.
O seu segundo foi o quarto da noite. Nos ferros que abriram a lide, dois ferros à tira, foi muito esforçado e saíram ferros bem cravados, nos curtos imprimiu muita rapidez, sem temple mas esteve bem na brega e sendo mais aplaudido pelas piruetas depois de cravar os ferros, do que pela sua execução em concreto. Os quiebros muito marcados fazem com que, por vezes não aconteça a reunião ao estribo, ficando o toiro paralelo ao cavalo. Termina a lide com um palmito de boa nota.
Vítor Marques, dos Amadores de Alcochete, à segunda tentativa esteve bem e recuando até ao conforto do grupo, reuniu e consumou a pega.
Volta para cavaleiro e forcado.
Miguel Moura, depois de receber o toiro com dois ferros à tira, escolhe tourear a quiebro sendo que o primeiro, de frente e bem no alto, deve ter sido o melhor da lide. Segue com o seu repertório de ferros que chegam ao público com força, embora por vezes, com menos verdade.
O último foi também um ferro de se lhe tirar o chapéu.
João Machacaz foi escolhido para pegar este toiro e com ele encerrar a sua vida de Forcado.
Brindou à sua família que deve ter ficado mais “leve” por saber que era a última vez que o via metido em tais lides.
Bem a citar e a recuar, mas o toiro vinha com muita pata e ao sentir o forcado na cara, baixa a cabeça, tentando tirá-lo no chão. João, ontem, não sairia. Fechou-se com tal querer que mesmo com os derrotes do toiro, foi ele quem levou a melhor. Boa pega para um enorme forcado!
Volta para cavaleiro e forcado e depois das homenagens que os colegas de ambos os grupos e outras entidades lhe fizeram, mais uma volta para o João Machacaz.
No seu segundo, quinto da ordem, Miguel Moura cravou dois ferros a abrir e depois de mudar de montada volta aos quiebros, alguns ajustados e bonitos. Muda novamente de montada e toureia a quarteio, de frente cravando ao estribo. Ferros bonitos! Podem não ser tão vistosos como os quiebros mas têm muito mais verdade. Brega vistosa, bem a mexer no toiro para o mudar de terrenos. Boa lide.
Rafael Costa dos Amadores do Ribatejo, executou uma boa pega sem que o toiro tenha posto problemas de maior.
Volta para cavaleiro e forcado.
O toiro que coube em sorte a Verónica Cabaço tem uma saída com som e leva a que se ouçam comentários em toda a praça. É bonito e vem com ganas.
Verónica luta com o cavalo que não se quer aproximar do toiro, a muito custo lá consegue deixar um ferro que não remata e um outro que só com muita insistência convence o cavalo a aproximar-se um nadinha e lá fica mais um ferro.
Nos curtos apenas o segundo e o terceiro chegaram ao público, após muito porfiar conseguiu um violino que procurava cravar mas ficou descaído, quase na barriga do toiro.
Não foi a lide sonhada.
João Pedro Oliveira pelos rapazes do Ribatejo, na primeira tentativa precipitou-se e caminhou pela arena fora direito ao toiro que arrancou de pronto. O forcado não estava preparado, não recuou, não conseguiu fechar-se e saiu desfeiteado. À segunda tentativa, mais calmo, mediu melhor o que ia fazendo e a pega consumou-se como mandam as regras.
Nem a cavaleira nem o forcado quiseram dar a volta que o director lhe atribuiu.
No toiro que fechava a corrida, Verónica escolheu outro cavalo para começar a lide e assim cravou os dois primeiros ferros, embora sem grandes primores, mas sem lutar com o cavalo. Já chega lutar com o toiro.
Nos curtos, esteve mais inspirada e cravou ferros a quarteio de belo efeito. Entrando a direito, quarteando-se já nos terrenos perto do toiro e deixando quatro ferros com boa nota. Tenta deixar a marca da casa – um violino; a coisa não foi fácil mas lá ficou bem sublinhado pelo público.
Leandro Bravo, dos homens de Alcochete também só à segunda tentativa conseguiu concretizar uma pega bem ajudada.
Volta para cavaleira e forcado.
Os forcados de Alcochete e do Ribatejo, pelo que se viu, deram oportunidade a gente nova para pegar toiros com peso e terapio e esta rapaziada, bem como os toureiros, também eles jovens, deram bem conta do recado. Foi bom ver coisas boas feitas por gente que é o futuro da festa.