Nas últimas semanas, o mundo tem estado apreensivo com a epidemia do novo Coronavirus, que tem afectado mais de 100 países do mundo, incluindo Portugal, onde já se atingiu quase meta das 4 dezenas de infectados com Covid-19.
Várias recomendações têm sido feitas pela Direcção-Geral de Saúde, tendo inclusive sido desaconselhados eventos que reúnam grandes multidões. Pelo mundo já se realizaram jogos de futebol sem publico e até mesmo na Itália foi decretada a quarentena em todo o país e proibidos todos os espectáculos.
Neste sentido, o Toureio.pt falou com Paulo Pessoa de Carvalho, Presidente da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos a fim de saber qual as medidas a tomar neste tipo de espectáculos culturais.
Toureio.pt (T) – Tendo em conta a epidemia de Covid-19 que está a registar-se por todo o mundo, em que medida poderá afectar os espectáculos tauromáquicos?
Paulo Pessoa de Carvalho (PPC) – Para nós neste momento os danos que esta epidemia está a causar ainda é uma dúvida e não temos uma resposta concreta à sua questão, estamos no entanto apreensivos. Na verdade, estas notícias e estes receios espalham-se a um ritmo e a uma escala de grande dimensão e mesmo que possamos crer que possa existir algum exagero em torno da realidade da situação, a verdade, é que ela nos poderá afectar efectivamente. Se o alarme de propagação ganhar em Portugal contornos idênticos aos que está a ganhar em Itália por exemplo, acredito que as pessoas se retraiam de ir a locais de grandes aglomerações de público e com isso, as corridas de toiros a par de outros eventos que reúnem milhares de pessoas, poderão estar afectados e bastante.
T – A APET já obteve por parte da DGS alguma recomendação relativamente à realização dos espetáculos tauromáquicos?
PPC – Obtivemos as “Recomendações para eventos públicos e eventos de massas” genéricas que foram tornadas públicas pela DGS para todos os tipos de eventos públicos e de massas, nenhumas em particular para a tauromaquia. Na realidade, estas recomendações são genéricas e acho que mais para “cumprir calendário” do que outra coisa, deixando ao arbítrio do cidadão, a decisão de comparecer ou não em qualquer evento público. Não vamos contratar toureiros italianos nem chineses, mas vamos naturalmente recomendar às pessoas que tenham o bom senso de estar atentas à evolução do assunto e de seguirem aquelas que são as normas públicas preventivas sobre a doença. Esperemos que o caso não ganhe contornos muito mais graves e que o pico de contaminação não seja preocupante. Por outro lado, acreditamos que os cuidados que a prevenção da doença exige, possa também deixar instituídas novas práticas de futuro. Naturalmente que estaremos também atentos e passaremos as informações necessárias a todos os participantes do evento, no sentido de saber se estiveram em alguma área particularmente sensível de contágio e se for o caso, naturalmente que solicitaremos para não comparecerem, mas de resto, não temos muito mais que possamos fazer, além do que será normal e está no documento da DGS.
T – Nos próximos tempos, caso o número de infectados continue a subir em Portugal, poderá haver cancelamento ou adiamento de espectáculos tauromáquicos?
PPC – Não foi um cenário que estivesse em cima da mesa até ao momento, nem tão pouco foi objeto de reflexão interna, no entanto se houver uma propagação da doença que assim o exija, poderemos estar num cenário de alguns espetáculos suspensos. Não sabemos, não especulamos, vamos acompanhando ao momento, dia a dia a evolução da doença e esperar que não se chegue a uma situação dessas, mas que infelizmente neste momento, é um cenário que já esteve mais longe de acontecer e não poderá no limite, vir a ser descartado.
T – No próximo fim-de-semana estão agendados dois espectáculos tauromáquicos, vai haver alguma medida preventiva?
PPC – Não, que eu saiba além dos cuidados normais, a recomendações gerais da DGS para eventos públicos e eventos de massas, foram hoje tornadas públicas, serão difundidas por todos os associados e se for o caso de haver medidas especificas para a tauromaquia, que sinceramente não vejo porque possa haver em específico, serão tornadas públicas com certeza. Mas estamos neste campo “PREVENTIVO” um pouco à boleia do que a DGS possa aconselhar e do bom senso e sentido de responsabilidade de cada cidadão. No caso dos dois espectáculos anunciados para este fim de semana, não estando até ao momento, em nenhuma das áreas onde os mesmos terão lugar, registada a ocorrência de qualquer caso de infecção, estamos tranquilos. No entanto corremos o risco a qualquer momento, que a DGS possa vir a interditar algumas regiões do país, se a doença se continuar a alastrar a este ritmo.
T – Existe algum plano de contingência preparado pelos empresários tauromáquicos?
PPC – Não, não existe e pelo que disse anteriormente, entendemos que não faz sentido um plano específico pelo menos no caso da saúde pública. No campo empresarial em si e na afectação directa desta “crise” ao negócio em concreto, também sentimos enorme dificuldade em ter um plano B, pois nestes casos infelizmente navega-se à vista e sem grandes previsões do tamanho dos danos que possam advir. Esta é uma Crise mundial e transversal a qualquer área de negócio, pelo que estamos de mãos e pés atados quanto ao plano de contingência que poderíamos vir a ter.