Quarta-feira, Setembro 11, 2024
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“Defendo os meus pontos de vista com convicção e sou suficientemente flexível para admitir e assumir erros”, diz Rui Bento Vasques em grande entrevista ao Toureio.pt

Rui Bento Vasques, director de actividades tauromáquicas do Campo Pequeno, concedeu uma longa e esclarecedora entrevista ao Toureio.pt sobre os 125 anos do Campo Pequeno, a imprensa taurina, a sua função como apoderado e a actualidade da Festa Brava em Portugal. É a primeira grande entrevista de Rui Bento Vasques após o término do abono lisboeta.

Depois de ontem termos apresentado a primeira parte (clique aqui para ler), hoje é publicada a frontal entrevista do director de actividades tauromáquicas do Campo Pequeno.

 

Toureio.pt – De que modo lida com as expectativas, suas e dos outros, sendo que recentemente disse "não ter facebook, mas sei o que por lá se escreve"?

Rui Bento Vasques (RBV) – Não sinto necessidade de estar, enquanto Rui Bento cidadão, nem enquanto Rui Bento profissional do mundo do toureio, exposto nas redes sociais. Naturalmente que tenho amigos que me informam do que por lá se diz sobre a minha vida profissional e, como tal, estou informado. Mas, repito, não sinto necessidade de ter página nesta, naquela ou na outra rede social.

T – Qual o grande momento desta temporada no Campo Pequeno, na sua opinião?

RBV – Sem dúvida a corrida dos 125 anos, no dia 18 de Agosto

T – Qual o momento menos positivo?

RBV – Foram aquelas corridas, que referi, em que a expectativa de púbico era elevada e a resposta não foi a esperada.

T – O que mudava, com a análise que certamente já fez a esta temporada?

RBV – Para já, o Hugo pede-me a entrevista no dia após o terminus da temporada, coloca-me 34 questões e pretende que eu já tenha a análise da temporada, bem reflectida’ Terá de esperar, meu caro…agora vou, junto com a minha equipa e a minha administradora, Dr.ª Paula Resende, iniciar uma reflexão profunda e depois sim, depois de refletirmos bem sobre os nossos pontos fracos e os nossos pontos fortes, as ameaças e as oportunidades do mercado, poderemos , numa base bem alicerçada, retirar conclusões e projectar o futuro. Para já…é muito cedo para emitir opiniões ou juízos sobre o que mudar ou manter.

T – Tem a mesma opinião da Administradora do Campo Pequeno, quando esta diz que é difícil fazer carteis porque não há figuras em Portugal?

RBV – Não creio que seja esse o pensamento da Dr.ª Paula Resende… Contudo, estamos muito atentos ao que se passa na maioria das outras praças…

T – E em termos ganaderos, foi difícil manter a qualidade dos touros na principal praça do país?

RBV – Não, em absoluto. Portugal possui uma extraordinária “cabaña brava”, e excelentes ganaderos que, na maioria dos casos, reservam para o Campo Pequeno o que de melhor têm nas suas camadas.

T – Considera que os touros "nhoc nhoc", como um dia alguém os apelidou, tiraram público ao Campo Pequeno?

RBV – Com franqueza, não sei o que é isso de “nhoc nhoc” em animais de raça brava… Há toiros com encastes para todos os gostos e a essa diversidade de toiros corresponde também a alguma diversidade de público. Pretendemos que ao Campo Pequeno venha o público e os toureiros que gostem do toiro bravo e do de investida nobre.

T – Em Setembro foi criticado por Telles Jr, com este a dizer que o Rui faltou à verdade relativamente à contratação. Afinal qual é a verdade?

RBV – João Telles Júnior não aceitou as condições que negociei com o seu Apoderado e aceites por este, e, como tal, não veio este ano ao Campo Pequeno.

T – Após estes acontecimentos, em 2018 vai voltar a tentar contratar Telles Jr ou este está vetado?

RBV – Ninguém está vetado no Campo Pequeno. Ao Campo Pequeno virão sempre os artistas que triunfem. O João Telles Júnior não veio ao Campo pequeno em 2017 e não posso esquecer todos os que vieram e deram a cara. Deverão vir ao Campo Pequeno em 2018 e com prioridade sobre os que não quiseram vir.

T – E a não vinda de Diego Ventura a Lisboa em 2017, conte-nos de que lado está a “teimosia” maior?

RBV – Não vejo qual o interesse em avaliar “estados de teimosia”. O que interessa é que Diego Ventura, como grande figura que é, tem o seu lugar no Campo Pequeno e será sempre bom chegar a um acordo com ele, em qualquer circunstância.

T – O Campo Pequeno está à venda e interessados parecem não faltar. O Rui vai continuar ou não seja qual for a administração?

RBV – Isso é pura futurologia. Nem sequer é questão que se ponha neste momento.

T – A próxima temporada já está delineada? Vai aumentar ou diminuir o número de corridas?

RBV – Como disse anteriormente, ainda nem analisámos com a profundidade que se impõe a temporada de 2017 que, aliás, ainda nem acabou oficialmente, como sabe. O que sempre procuraremos é adequar a oferta de corridas à capacidade que o mercado tenha para que elas se realizem com resultado económico positivo.

T – Há alguém já contratado? Se sim, quem?

RBV – Claro que não, como facilmente depreenderá pelo desenrolar da nossa conversa.

T – Quem deseja trazer ao Campo Pequeno no próximo ano, caso continue?

RBV – O de sempre: José Tomás!

T – Como reage às críticas que tem recebido de parte da imprensa taurina? Qual o motivo por que isso acontece?

RBV – O lugar que ocupo, como gestor taurino do Campo Pequeno é um lugar de grande visibilidade e, como sabe, quanto maior a visibilidade, mais expostos estamos ao aplauso e à censura. Reajo bem. Tenho uma postura perante a vida que me faz sentir preparado para lidar bem com as criticas positivas e as negativas. As negativas algumas vezes fazem-me sentir ainda mais o meu espírito cristão. Quando Jesus Cristo exalava o último suspiro na cruz, perdoou aos seus algozes exclamando “Pai, perdoa-lhes que não sabem o que fazem”. Por vezes sinto-me a parafrasear Cristo: Pai perdoa-lhes que não sabem o que escrevem!”

T – Além de Director de Actividades do Campo Pequeno, é também apoderado. Neste campo há novidades, tendo em conta que vamos entrar no defeso que é sempre marcado por danças de apoderamentos?

RBV – Para já novidades….nenhumas. Ponho sempre o meu lugar à disposição dos artistas que apodero no final de cada temporada…

T – Não acha que há sempre conflito de interesses gerir uma Praça de Touros e ser apoderado de um toureiro? Ou são compatíveis e duas funções totalmente independentes?

RBV – Sei bem distinguir as situações e tenho sempre evitado a conflitualidade entre elas. Nunca os toureiros que represento ou representei foram beneficiados no Campo Pequeno por essa situação.

T – Como analisa o actual momento da Festa Brava em Portugal?

RBV – A precisar de uma grande e séria reflexão que envolva não só aqueles que estão dentro dela, os que dela dependem ou que a tornam possível, mas também alargá-la a personalidades da vida sociocultural portuguesa, pois nesse segmento também há pessoas que reflectem sobre esta problemática e são capazes de defender a festa.

T – O que urge mudar?

RBV – Bastantes coisas. Mas isso é assunto para outro tipo de reflexão, uma reflexão aprofundada e, sobretudo que as conclusões que viessem a ser extraídas, jamais fossem escritas em papel molhado e a caneta de tinta permanente…

T – Como gestor da Praça de Touros da principal praça do país e sendo a Administração do Campo Pequeno Presidente da Assembleia da APET, como vê o trabalho desta associação na Festa?

RBV – A festa, como qualquer outro sector de actividade, só tem a beneficiar com estruturas associativas fortes e representativas dos vários interesses (legítimos) em presença. Neste ponto de vista, o associativismo taurino, no global, tem uma larga margem de progressão, pois está ainda numa fase pouco mais que embrionária. Precisa de ideias e de homens com personalidade para as defender e implementar.

T – Como analisa a actual imprensa taurina em Portugal?

RBV – Com uma certa apreensão…

T – Como explica o afastamento, provado, da imprensa generalista e cultural da Festa Brava? A que se deve?

RBV – A imprensa generalista já teve um papel determinante na formação e informação dos aficionados. Hoje, infelizmente, não o tem…Por um lado, publicam-se menos jornais, por outro a net destronou de certa forma o papel… É uma pena a falta de sensibilidade e de cultura taurina da maioria da chefias jornalísticas… Contudo, e no que ao Campo Pequeno se refere, gostaríamos de assinalar que o panorama, não sendo famoso, que não o é para a tauromaquia em geral, mas também não é dramático. A RTP tem estado connosco ao longo dos anos. Este ano recuperámos a TVI para a tauromaquia, somos parceiros do Correio da Manhã, d’O Diário de Notícias que tem, em certas ocasiões dado relevo ao tema tauromáquico. Veja-se, a este propósito as chamadas de primeira página para a entrevista com Juan José Padilla, a 8 de Abril, e o destaque dado aos 125 anos do Campo Pequeno, destaque esse de primeira página. Aliás o tema 125 anos do Campo Pequeno foi muito noticiado em toda a imprensa, rádio e televisão generalistas. Hoje em dia há que criar factos para que se tornem noticias apetecíveis para este tipo de órgãos de comunicação social. Quando isso sucede, as coisas acontecem.

T – Durante este percurso no Campo Pequeno tem sofrido muitas pressões dos agentes da Festa?

RBV – Há pressões em tudo na vida. O Campo Pequeno não está imune a elas. Há que saber lidar com esse fenómeno, tão vulgar nos dias de hoje.

T – Como se lida com essas pressões? De que modo influencia o seu trabalho?

RBV – Lida-se com a cabeça, em vez de ser com o coração. Racionalizando. Estando coesos e crentes de que, atendendo às circunstâncias delineámos o melhor caminho, a melhor estratégia para conseguir os objectivos em vista, ao mesmo tempo que temos de ser suficientemente flexíveis para, em caso de necessidade, podermos “corrigir o tiro”

T – E o Rui tem pressionado?

RBV – Defendo os meus pontos de vista com convicção e sou suficientemente flexível para admitir e assumir erros, quando disso se trata. Para mim, as grandes vitórias na vida pessoal e profissional passam por aquilo que na teoria dos jogos se chama jogos de Duplo Vencedor. Quando ganham as duas partes aí sim, sinto-me feliz, ainda que para tal seja necessária a pressão.

T – O público do Campo Pequeno é ou não exigente? Houve ou não portas grandes a mais?

RBV – Nos termos do Regulamento da Praça e do Regulamento do Espectáculo Tauromáquico em vigor, houve as portas grandes que o público entendeu. Mas para os que julgam que o público do Campo Pequeno é um público fácil, lembro apenas a bronca que Juan José Padilla e a sua quadrilha aqui escutaram no dia 7 de Setembro….eloquente e elucidativa…

T – Sente que se honraram os 125 anos do Campo Pequeno com estes carteis e esta temporada?

RBV – E você duvida? Desde já lhe digo que vieram ao Campo Pequeno os artistas que, efectivamente quiseram vir, como aliás já deve ter depreendido do rumo que esta entrevista tem tomado, rumo esse que o Hugo definiu. Poderia repetir-lhe os nomes das grandes figuras internacionais do toureio que estiveram no Campo Pequeno. Já o fiz, mas enumero, ainda assim os nomes dos cavaleiros portugueses: João Moura Antonio Telles, Luis Rouxinol, Rui Fernandes, Rui Salvador, Filipe Gonçalves, Moura Caetano, João Moura Júnior, Manuel Ribeiro Telles Bastos, Francisco Palha, os grupos de forcados de maior nomeada (Santarém, Montemor, Lisboa, Vila Franca de Xira, Alcochete, Aposento da Moita e outros) e as ganadarias Grave, Teixeira, Vinhas, Varela Crujo, Passanha, Veiga…

T – Convidou Marcelo Rebelo de Sousa para estar no Campo Pequeno. Como viu esta nega? E considera que o convite foi feito da melhor forma?

RBV – Toda a gente sabe como é a agenda de Sua Excelência o Presidente da República. Vasta e intensa. O convite foi feito na observância das regras inerentes ao relacionamento de uma instituição da Sociedade Civil com o órgão de máxima representatividade do Estado, como é a Presidência da Republica.

T – O que ainda lhe falta fazer na tauromaquia?

RBV – Muita coisa…mas para já estou contente com o que fiz.

T – Se terminasse hoje o seu percurso na tauromaquia, era um homem realizado?

RBV – Sem dúvida

T – Muitos vaticinam a sua saída do Campo Pequeno, para esclarecer todos, diga-nos se saísse agora do Campo Pequeno, continuava o mesmo Rui Bento Vasquez e com a mesma força na Tauromaquia?

RBV – Tenho um nome na tauromaquia, nome esse construído na base de uma carreira como matador de toiros, durante a qual, se não fui a figura que sonhei ser, fui um toureiro orgulhoso que nunca voltou a cara às adversidades e obtive triunfos importantes. Tenho construído uma carreira como homem de negócios taurinos, iniciada como apoderado ligado á Casa Chopera, que motivou logo no final da primeira temporada um galardão como Apoderado Revelação. Desenvolvi a minha actividade em Portugal, Espanha, França e América Latina. Ao longo dos anos venho apoderando vários toureiros e hoje apodero duas figuras da nova vaga: uma em Portugal, João Moura Júnior e outra em Espanha, Juan del Álamo. No campo empresarial o trabalho desenvolvido ao longo de 12 temporadas fala por mim. Nada disto me podem tirar…com Campo Pequeno ou sem ele.

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