Tudo o que vou passar a escrever é discutível, suscetível de várias opiniões consoante o gosto, e de diferentes emoções, dependendo da alma. Mas uma coisa, todos temos de estar de acordo, que o festival taurino da Rádio Campanário é sem sombra de dúvidas, e em terra “deles” o rei de todos os festivais. Coroado este ano definitivamente, como um festival internacional. Esta tradição que já vai no oitavo ano, veio quase logo desde os seus inícios, acompanhada de outra de grande simbolismo; que era a presença no passeillo da Nossa Senhora da Conceição em momento de grande solenidade; tradição esta impedida o ano passado com direito a repetição este ano; mas já lá vamos.
Rui Fernandes abriu a tarde com ganas, e com susto ao receber o toiro de D Maria Guiomar Cortes de Moura, um baixel com volume que tardava em se fixar e com pouca mobilidade, Rui Fernandes tudo lhe fez para cravar a ferragem da ordem e atingir bons momentos, esteve bem por cima do oponente, terminou a lide com um bom par de bandarilhas.
Manuel Telles Bastos teve pela frente o toiro da tarde, um bravo toiro de Manuel Calejo Pires que fez suar literalmente o jovem cavaleiro da Torrinha; primeiro, segundo e terceiro ferros curtos foram de nota elevada, cravados no sítio com o toiro a investir com vontade; uma lide esforçada a um toiro que pedia contas; que terminou com a boca fechada depois de investir bastante nos capotes dos bandarilheiros, no cavalo, e chegar á pega com uma vontade como na saída.
João Moura Jr esteve em bom plano perante um toiro de Francisco Romão Tenório que saiu com francas e alegres investidas mas que se apagou rapidamente; bons momentos de brega, ferros de nota alta com ligeiras batidas ao piton contrário; numa lide terminada em bom plano sem aceder, e bem, a pedidos extra de mais um ferro por parte do público.
O diretor de corrida Sr Agostinho Borges atribuiu volta ao ganadeiro Francisco Romão Tenório o que é bem discutível; sendo que ficou por atribuir a volta no toiro anterior, pertencente á ganadaria de Manuel Calejo Pires, isso sim indiscutível!
Leonardo Hernandez foi o grande triunfador do festival do ano passado; este ano, embora num tom abaixo, foi novamente o grande triunfador e aquele que mais chegou ás bancadas, e que mais aplausos escutou. Lidou um toiro da ganadaria espanhola El Capea que colaborou mas ao qual faltou um pouco mais de emoção, lidou com verdade Hernandez e com uma afinação a todos os níveis que impressiona; no terceiro curto colocou a praça em pé, adornos e remates muito próprios do rejoneio numa lide rematada com dois ferros de palmo em sorte de violino.
Na parte apeada Uceda Leal substituía Ortega Cano; lidou um novilho de Calejo Pires que recebeu á Verónica, brindou ao público e baseou a sua faena basicamente em séries de derechazos, com o vento a não ajudar, toureou ainda por naturais, sendo a segunda série a melhor; a pouca classe do novilho impediram uma lide mais limpa.
Morenito de Aranda apresentou-se confiante e preparado; lidou também um novilho de Calejo Pires que recebeu nos tércios e levou lanceado por verónicas até aos médios rematando com uma chicuelina, brindou também ao público; destaque duas boas séries de naturais rematando com uma trincherilha; uma faena carregada de temple e toreria que agradou ao respeitável.
Manuel Dia Gomes podemos dizer que foi o triunfador na parte apeada; lidou também um bom novilho de Calejo Pires, e apresentou um toureio variado logo nos lances de capote: larga de joelhos, chicuelinas, revolera, zapopinas/lopecinas; na muleta logo uma boa tanda de naturais de início, passe cambiado e circular invertido (dosantina), rematou a faena por bernardinas e colheu importante triunfo.
O triunfador da forcadagem foi João Restolho dos Académicos de Elvas, numa grande pega á primeira tentativa ao tal bravo de Calejo Pires. Tomás Silva também dos Académicos apenas se fechou á terceira tentativa.
Pelos Amadores de Évora Miguel Direito pegou á segunda tentativa e Francisco Abreu á primeira.
Abrilhantou e bem o espetáculo a Banda Filarmónica do Centro Cultural do Alandroal, com duas ressalvas: A primeira, que é uma pena pararem de tocar enquanto o cavaleiro troca de montada; a segunda, é que deviam ter parado de tocar quando o matador sofreu um desarme. Pormenores.
Voltando á tradição interrompida; por quem comanda os destinos da confraria da Nossa Senhora da Conceição Padroeira de Portugal, diz a história: “ No séc. XVII, a festa da Real Confraria de Nossa Senhora da Conceição, sediada na Matriz, era sempre momento alto de veneração á Virgem…nos quatro dias seguintes houve touradas, com touros lidados a cavalo por alguns dos homens da Casa Ducal. Os touros lidados á mão foram toureados por homens de fora.” Ora “o que está á vista, não precisa de candeia!” Diz a história, e dizemos nós que é uma pena duas ou três almas privarem milhares de um momento único e solene! É caso para dizer: “Que uns juntam com o bico, enquanto outros espalham com as patas!”