“Cansado pero contento”, frase que os barranquenhos proferem para expressar o seu sentimento após mais uma “Fêra” de Agosto. Foram dias e noites de muita vivência e confraternização, de reencontros de parentes, amigos e visitantes, tendo como denominador comum o toiro. A Praça/arena, na Praça da Liberdade com os seus tradicionais tabuados(1), os encerros e os espectáculos que se sucederam durante esses dias deafirmação da nossa cultura e da nossa identidade cultural de povo de fronteira, e porque não a nossa taurinidade, atestam bem o porquê do ser Barranquenho. As touradas podem ser boas ou más, os toureiros/matadores podem ou não fazer boas faenas, tudo isso importa, mas o que realmente fica é que a tradição cultural, de um povo único como é o barranquenho, se cumpriu um ano mais. E consagrada na Lei, permanece intocável.
É urgente que a classificação da Tauromaquia como Património Cultural Imaterial de Portugal seja uma realidade, pois dá-nos o reconhecimento como expressão relevante da cultura tradicional deste País e blinda-nos face às ameaças daqueles que tudo tentam para nos aniquilar. Veja-se o caso da Lei de 2013 em Espanha, que obriga os poderes públicos a proteger a Tauromaquia. Sintomático não é?
O excelente trabalho de recolha e pesquisa coordenado pelo Dr. Luís Capucha merece todos os nossos encómios e a nossa ajuda e apoio para conseguirmos a desejada classificação, que já tarda.A importância deste passo é enorme senão vejamos: os próprios tribunais espanhóis têm decidido quase sempre a favor da causa taurina. Claro que também a pressão da Fundación Toro de Lidia, dos seus órgãos directivos e do seu gabinete jurídico, tem sido continua e os resultados vão aparecendo.Os próprios tribunais têm decidido, que não podem as Comunidades Autónomas e os Ayuntamientos (Municípios) proibir espectáculos tauromáquicos, e que estas entidades públicas não podemdeclarar-se anti- taurinas. O que teria acontecido em Viana do Castelo, Póvoa de Varzim e outros, se tivéssemos estas leis e estes tribunais? A última vitória e após uma sentença judicial, é a corrida anunciada e autorizada para cidade de Villena (Comunidade Valenciana), que antes tinha sido proibida.
Acabámos de saber da importante decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto a dar razão á acção interposta pela Protoiro, pelo Clube Taurino Povoense e pela empresa Aplaudir contra o Município da Póvoa de Varzim. Quando se luta com a razão do nosso lado e com a firmeza que se requer nestas situações difíceis a vitória é possível, mas não devemos baixar os braços pois eles não vão desistir facilmente, pelo que a realização da corrida que está programada será um sinal de vitória!
Volto a repetir aquilo que já afirmei no meu anterior artigo, as eleições legislativas estão aí á porta e vão decidir muito do futuro da Tauromaquia no nosso País. É imperioso que todos os taurinos nos unamos, pondo de lado as nossas divergências, é urgente que de uma vez por todas nos deixemos de hesitações do tipo “deixa estar, isso não é comigo”, e nos ergamos mostrando a nossa força. Continuo a acreditar que é possível a realização de uma grande concentração em defesa da Tauromaquia no seu todo, e no Campo Pequeno como então referi.
É preciso mostrar àqueles partidos que não gostam de nós apenas porque defendemos uma arte que faz parte da cultura portuguesa mais genuína, que não vacilamos e que não somos como eles! Que mais não são que cordeirinhos seguindo modas e doutrinas importadas eivadas de fundamentalismo, adoptando estrangeirismos e erguendo bandeiras ditas de proteção animal e ambientalistas que servem ás mil maravilhas para conseguir os seus fins.
Vamos mostrar que estamos vivos, que não temos medo porque somos uma grande força e que se quisermos nada nem ninguém nos vai derrotar.
Temos que velar pelo futuro da Festa, estar sempre atentos e prontos para dar o nosso apoio ás organizações que nos representam actualmente.Penso que seria da maior importância a criação de um órgão consultivo de apoio a essas instituições tauromáquicas, a ser formada por pessoas de reconhecido mérito da nossa sociedade, de todos os quadrantes da vida portuguesa, conhecidos pela sua afición á Festa de Toiros, e que dariam o seu contributo de forma inteiramente graciosa. A Tauromaquia só teria a ganhar!
E já que falamos do futuro…convirá dizer que não haverá futuro sem novilhadas, a verdadeira escola de toureiros, e de fomento de valores como a amizade e a valentia entre os jovens. Este será o caminho certo para formar verdadeiros conhecedores da Tauromaquia por dentro, e aficionados que no futuro se vão empenhar na defesa da Festa.
Este é um caminho sem retorno, ou avançamos todos juntos mostrando a nossa força, ou pouco a pouco e sem nos darmos conta, vamos deixando que nos asfixiem com leis proibitivas anti- taurinas, que visam acabar com o que nos é mais caro – a arte e a cultura tauromáquicas.
Vamos deixar?
(1)- Estrutura de madeiros ligados entre si, montados anualmente para as corridas de toiros da “Fêra” de Agosto.