Francisco Peralta, Cabo do Grupo de Forcados Amadores de Portalegre, emitiu esta sexta-feira um comunicado sobre a corrida de touros a realizar amanhã em Elvas, de onde o grupo alegadamente “caíu”. Um comunicado que passamos a transcrever na integra:
“Caros aficionados,
Não é com agrado que emito este comunicado, mas não posso deixar de vos dar conhecimento de como anda a nossa festa, e do que se passa nos bastidores da mesma.
Queria começar por me colocar na posição do comum aficionado, desenhando uma eventual imagem detida por este, do forcado enquanto figura da festa brava, e não tenho duvidas em afirmar que maioritariamente, esta figura impar, é considerada necessariamente justa e imprescindível á realização dos mais variados espectáculos taurinos.
Acontece que o forcado é ser humano e contrariamente áquilo que seria espectável acontecer, permite a prática de irregularidades por parte de alguns empresários dos espectáculos tauromáticos, colaborando na estratégia destes, do que resulta para o lado dos empresários um maior encaixe de capital, e para os grupos de forcados mais uma ou outra corrida pegada.
Permitam-me deixar esta questão:
Será que é verdade que há grupos de forcados a pagar para pegar corridas de toiros?
Será que tal prática adquiriu dimensão preocupante na nossa querida festa?
Quem são os principais actores desta atitude que deixa uma enorme mancha negra na fotografia do forcado amador?
Postas as questões deixem-me levar ao vosso conhecimento um episódio vivido por mim enquanto cabo do Grupo de Forcados Amadores de Portalegre, que deixa transparecer a intenção de um empresário, e que mais não é do que uma tentativa de obter dividendos com a actuação de um grupo de forcados.
Mais grave se torna quando é afirmado por esse mesmo empresário que há grupos de forcados a pactuar com tais intenções, traindo a classe, e denegrindo a imagem detida pelo público em geral, e pelos aficionados em particular, do forcado português, como figura incontornável da festa brava, e onde a grande maioria vê reflectida a imagem da integridade e desinteresse em prol dessa mesma festa.
Convém aclarar que este foi um caso por mim vivido, não sendo minha intenção generalizar a actuação dos empresários, já que há pessoas que conduzem as suas actuações tendo como princípios a clareza e transparência dos seus actos face ás regras em vigor.
Passando a relatar os acontecimentos:
Fui contratado pelo Exmo. Sr. Bugio, no final do mês de Agosto, através de contacto telefónico, para que o G.F.A. de Portalegre participasse na tradicional corrida dos bombeiros que anualmente decorre durante a Feira de S. Mateus, em Elvas.
Como podem verificar nos cartazes supra, alguma coisa no campo dos forcados mudou.
Para que seja possível compreender toda esta situação, é necessário recuar no tempo.
Quem acompanha a festa deve recordar-se que na passada temporada o GFAP organizou em conjunto com o Centro Social de Tolosa uma corrida de homenagem ao falecido forcado Francisco Matias, utilizando a praça desmontável do Sr. Matias (Empresário) para a realização do evento, tendo sido acordado um preço onde estaria incluída a montagem e desmontagem da referida praça.
O que aconteceu na verdade foi que esse Sr. Matias, no final de tudo, acabou por levar quase o dobro do dinheiro, sendo que quem montou a praça foram os elementos do Grupo e algumas pessoas de Tolosa.
Passado isto falei com o Sr. Matias e pedi-lhe que, sem compromisso, se lembrasse do Grupo visto que raramente pegávamos para a sua empresa, ao qual me respondeu que ia estudar a hipótese e que mal tivesse oportunidade nos contactaria.
Até á data destes acontecimentos não houve qualquer contacto ao GFAP por parte deste empresário, e não é condenável porque não existia qualquer compromisso.
Para que possa ser avaliada a diferença de atitudes das pessoas posso afirmar que, numa das anteriores temporadas, também o conceituado Sr. Dr. Gomes Esteves, médico responsável pela maioria das corridas do Alto Alentejo e médico na praça de toiros da Nazaré, que desempenha o cargo de Presidente da Assembleia Geral da Associação do Grupo de Forcados de Portalegre, tinha colaborado com o Sr. Matias, deslocando-se cerca de 600 km para que este Sr. pudesse realizar uma corrida de toiros para a qual não tinha médico responsável, sem exigir qualquer pagamento por este seu serviço, apenas deixando ao critério daquele empresário a possibilidade de incluir o GFAP num evento taurino da sua responsabilidade.
Recentemente o Sr. Matias teve ainda o descaramento de dizer que o Grupo de Portalegre nunca o ajudou e que sempre foi incorrecto com a sua empresa, o que me leva a pensar que há pessoas com uma capacidade de memória muito curta, e que mentem descaradamente para tentar levar a água ao seu moinho, certo sendo que o rasto que vão deixando, com as atitudes que têm, vai criando uma imagem que enegrece a festa brava e deixa que quem não conhece pormenores meta no mesmo saco pessoas idóneas.
Eis que acontece um contacto do Sr. Matias (empresário), no início do mês de Agosto para pegar uma corrida no dia 8 de Setembro em Mora.
Caros aficionados, querem saber em que momento o GFAP foi incorreto com o Sr. Matias?
Tudo se passou quando, no passado dia 8 em Mora após a assinatura do contrato da Ass. Nacional dos Grupos de Forcados (que estipula e está devidamente tabelado, que um Grupo de primeiro escalão receba numa praça de terceiro escalão, 625 euros), e após o decorrer da corrida, o tesoureiro do GFAP diligenciou a cobrança do montante estipulado, obtendo como resposta do empresário que não era sua intenção pagar.
Como representante máximo do Grupo e defensor do forcado amador, dirigi-me ao Sr. Matias e exigi o pagamento que me era devido, recebendo como resposta: “você não me vendeu bilhetes eu também não lhe pago”.
Depois disto só me coube marcar a minha posição e cobrar o que me era devido, relembrei-o que não me tinha comprometido com qualquer numero de bilhetes, apenas e para o ajudar, coloquei a tertúlia do Nosso grupo à disposição como ponto de venda, uma vez que muitos dos nossos aficionados passam por ali todos os dias, devolvendo posteriormente os bilhetes não vendidos no dia da corrida, mas sem qualquer tipo de obrigatoriedade, porque sou contratado para pegar toiros, não sou contratado por vender bilhetes.
Será que fui incorreto com o Sr. Matias por querer receber o que é do GFAP por direito e por não colaborar em esquemas de venda de bilhetes?
Depois de uma pequena discussão que em nada contribui para o bem da Festa, lá recebemos o que era nosso por direito, despedindo-se o Sr. Matias com a seguinte frase: “vamos ver se isto fica assim”.
Quando o Grupo vinha a sair da praça fui abordado pelo Sr. Bugio (responsável pela corrida de Elvas, evento em causa) que me diz o seguinte: “O Sr. Matias veio pedir-me que vos tire da corrida de Elvas”.
Perante tal facto respondi que o empresário era o Sr. Bugio e que só ele poderia decidir o que fazer quanto a isso.
Voltou então a historia dos bilhetes (desta vez para a corrida de Elvas) afirmando agora o empresário de Elvas que um dos Grupos contratados já se tinha comprometido com 150 bilhetes.
Voltei a responder que não assumia compromissos de tal ordem mas que a Elvas, certamente, o Grupo de Portalegre levaria muitos aficionados.
O que é certo é que saí da conversa com o Sr. Bugio sem saber com o que contar, mas uma vez que os cartazes da publicidade já tinham saído para toda a comunicação social através dos sites taurinos, não pensei que este Sr. fizesse cair o Grupo de Portalegre da corrida de Elvas.
Pergunto eu:
Que influência pode ter o Sr. Matias na Corrida dos Bombeiros de Elvas?
Será que faz parte da direção do corpo de Bombeiros?
Tem alguma sociedade com os bombeiros na organização da corrida?
Se é uma corrida a favor dos bombeiros não deviam pensar no que seria melhor para essa instituição de homens que arriscam a sua vida todos os dias em vez de andarem com joguinhos de interesses?
Estas perguntas só obtêm resposta se as entidades fiscalizadoras exercerem as suas funções, auditando as contas de todos os intervenientes, incluindo grupos de forcados, já que a lei vigente obriga á contabilização e declaração das verbas recebidas e pagas por qualquer pessoa singular ou colectiva.
A verdade é que somos contratados para pegar toiros não para vender bilhetes, e que tal prática a ser consolidada sem que os organismos com responsabilidade actuem, vai denegrir a imagem da festa brava e dos seus pares, e até contribuir para o descrédito da mesma.
O GFAP caiu da corrida depois de já estar anunciado, entrando o Grupo de Forcados Amadores de S. Mansos.
Em relação ao Grupo de S. Mansos só quero agradecer ao Cabo a forma correcta como procedeu, nem o Sr. Bugio como empresário, nem o Sr. Matias, como grande influente na organização da corrida, tiveram a dignidade de me ligar a descontratar, ou a informar que já não contavam com o Grupo, era no mínimo a atitude de respeito que se exigia por um Grupo com 44 anos de historia, que defende o distrito de Portalegre e o nome do Forcado Amador em todos os sítios onde se desloca.
Agradeço mais uma vez ao cabo do Grupo de S. Mansos por me ter ligado a informar que o tinham abordado para participar na corrida dos bombeiros, perguntando a minha opinião uma vez que tinha sido o meu Grupo a sair.
Contei-lhe o que se tinha passado e respondi que deveria aceitar, porque colocar-se do meu lado não levaria a nada, só iria perder uma corrida já que entraria logo qualquer outro grupo, atendendo a que, enquanto uns tentam manter a verdade e a dignidade na festa, outros colaboram em jogos destes.
O barrete só serve a quem o enfia, assim anda a nossa Festa dos toiros e alguns Grupos de Forcados Nacionais.
Quanto a mim como cabo assumo a responsabilidade de todos os meus actos, posso até perder corridas com a minha postura e com a posição que estou a assumir, mas entro de cabeça erguida e é assim que saio!
Enquanto andar a arriscar a minha vida e a daqueles que lidero em praça, exijo aquilo a que tenho direito.
Porque fiquei fortemente motivado para aclarar situações deste tipo, com a viva convicção de que estarei a contribuir para a saúde da festa brava, e para a informação correcta aos aficionados em particular e publico em geral, irei continuar a alertar os responsáveis de âmbito nacional, desmascarando situações que venham ao meu conhecimento, e exigindo que sejam cumpridas as normas em vigor, ficando já claro que a Associação de Grupos de Forcados será a entidade responsável pela clarificação de situações que possam prejudicar a imagem do Forcado Amador.
Obrigado a todos pela atenção… Os aficionados do Grupo de Portalegre, que são muitos, dificilmente estarão presentes na corrida dia 28, mesmo assim desejo que a praça esteja esgotada, porque os Bombeiros Nacionais merecem o apoio da Festa dos Toiros, o meu abraço a todos os Bombeiros de Elvas que não têm qualquer culpa, e que esse dinheiro seja verdadeiramente empregue nas vossas necessidades no dia-a-dia do combate aos fogos e outras acções de auxilio ás pessoas.
Cumprimentos,
Francisco Paralta”