Terça-feira, Março 28, 2023
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Lisboa: Noite para o futuro!

Em corrida de Matadores, guardou-se um minuto de silêncio à memória de Eduardo Salvação Barreto, falecido na última semana. Era o único forcado vivo da fundação do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa. É isto a universalidade da Tauromaquia.

Se tudo continuar como antes em relação ao toureio a pé em Portugal, depois da noite de 29 de Setembro de 2016 em Lisboa, mesmo com os obstáculos legais colocados, fica a prova que os agentes taurinos que operam (e operaram) no mercado luso, em sentido lato, serão os grandes culpados de tal. Quando os toureiros se entregam e são profissionais (mesmo estando em Portugal) em cartéis equilibrados, quando se lidam divisas que servem, exigem e transmitem (sem ser de “carretón” nem “assassinos”), quando se lidam “Toiros” (não necessariamente mastodontes, ou desmesurados/minguados de cara), quando o divino ajuda e não descompõe (também faz muita falta). O publico reage, vibra e repete a ida. Isto resume muito do que foi, no global, a ultima nocturna em Lisboa. Mais que isso, foi um mostrar de caminho…haja capacidade e humildade para tirar proveitos.

Padilla saiu em ombros de novo! Mesmo que não tivesse saído. Não é isso o mais importante a reter. Padilla esteve profissionalíssimo, rodado, com muito traquejo, muito inteligente e sabe jogar com os factores todos, dentro e fora da arena. Entendeu dois toiros distintos. Um primeiro mais medidor, com pontinha de génio e um segundo mais reservado, com casta, nobre, mas sem repetir em demasia. Três largas afaroladas de joelhos, com o toiro a galope aberto, para parar o primeiro, mostraram ao que vinha o “Ciclón” e marcaram a noite a partir daí. Dois “terçios” de bandarilhas, fáceis e a dar espectáculo e duas faenas completas, variadas, a tirar o partido de ambos oponentes, sempre com domínio das situações e com entrega. Não foram muito “pintureras”, mas foram sérias, profissionais, chegaram com força e puxaram muito a noite! Padilla está a ser muito importante para o toureio a pé, também em Portugal. Também cá é “Maravilla”!

Juan Serrano “Finito de Córdoba”, voltava depois de uma faena de inspiração e corte artístico no inicio de época. Vinha também para “abrir praça” ao seu “compadre”. Tínhamos a espectativa de ver o perfume da sua quietude e mando artístico. Se no primeiro nunca chegou a “acoplar-se” á cadencia do Veiga, ficando duas series pela direita, em que aqueceu o ambiente. No segundo “cantou outro galo”, quando no meio da arena se sentou na figura e cadenciou a investida nobre do “burraco”, com o voo da flanela. O publico entregou-se e assinou mais um contributo, forte, na noite.

O nosso mais recente Matador de Toiros, confirmava em Lisboa. Aparecia um pouco como a coquete do cartel, a compor o “bouquet” das figuras. Mas saiu com créditos firmados. Não é fácil tourear dois toiros naquele ambiente, naquela competência e ambos depois de Padilla. Dias Gomes não se acanhou. Sonhou alto e cresceu. Muito menos toureado, com muito menos anos, muito menos “oficio” não era fácil a tarefa, mas…a vontade foi mais forte, as ganas e o sonhar alto. Se no primeiro tivemos lampejos de arte a espaços, numa faena ligada e de bom nível, com um toiro mais reservado e menos colaborante. No segundo retirou da memória imediata o êxito anterior de Padila. O Campo Pequeno voltou a vibrar com um Matador de Toiros Português em noite grande. Entendeu o grande toiro de Veiga que lhe tocou, e a cuidá-lo deixou-o abrir em tendas de mando, com temple, por ambos pitóns, mas com a mão esquerda a ser a melhor e mais bonita guia. Faena larga e variada, com desfrute e fecho apoteótico de uma Grande noite para o Toureio a Pé em Portugal. Temos Publico, Temos Toiros, Temos Toureiros com potencial, Temos escolas, para com os realmente bons “de lá”, trazer isto para cima.

Outro dos triunfadores da noite e a base de tudo. O Curro de Manuel Veiga. Duas chamadas à praça, o ultimo toiro premiado com portas fechadas para ovação antes da recolha (grande gesto do director Rogério Jóia) e a presença no agradecimento final de todos os intervenientes. Revelam o reconhecimento e sabedoria de quem preencheu ¾ da lotação do Campo Pequeno (numa corrida sem cavalos nem forcados). Sentiu que não foi enganado pela porta dos sustos. Tiveram mobilidade, tiveram muita casta, foram nobres nas investidas, faltou-lhes um pouco mais de força, mas transmitiram e triunfaram, pelo todo. O último é extraordinário. Gostámos particularmente deste e do lote de Finito. Parabéns Ganadero!  

Outro êxito importante para o Toureio apeado Lusitano: Grandes pares da quadrilha de Dias Gomes, com chamada a agradecer “montera em mano” para os três. Sobretudo pelos pares de Joaquim Oliveira e Cláudio Miguel. Foram as ovações mais fortes e sentidas da noite, para quem bandarilhou, em nossa opinião. Também por aqui foi importante a noite!

Outro dado de vitalidade do Toureio a pé em Portugal. O Campo Pequeno presentou de pé e com ovação forte, “pura”, de reconhecimento e respeito pela obra feita, quando Padilla brindou o seu segundo ao Maestro Ricardo Chibanga!

Foi tudo a favor!

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