O espectáculo foi dirigido por Fábio Costa, assessorado pelo veterinário Carlos Santos e teve uma boa entrada de público, dados os constrangimentos do momento.
Para lidar um curro de toiros superiormente apresentados, da ganadaria Mata-o-Demo, apresentava-se um cartel bem rematado com uma mescla de idades e modos de entender a arte de tourear que só por si, aguçavam o apetite a qualquer aficionado.
Apresentavam-se em cartaz António Telles, Filipe Gonçalves, João Ribeiro Telles, Andrés Romero, António Prates e Tristão Ribeiro Telles, ainda amador.
António Telles, o grande clássico que não sabe estar mal, tinha no cartel mais dois elementos da família pelo que sendo o mais velho tinha que dar o exemplo. E que exemplo!… Sempre correto, de frente, sem rodriguinhos nem salamaleques, dando vantagens ao toiro, foi um gosto vê-lo mais uma vez. A brega eficaz e os momentos da cravagem, bem como o remate das sortes, saem tão naturais que até parece fácil fazer aquilo.
Para pegar este toiro saltou o cabo do grupo, Leonardo Mathias, que só à quarta tentativa conseguiu o seu intento, pelo que não quis sair à arena para agradecer os aplausos.
António Telles agradeceu nos médios.
Filipe Gonçalves recebe o toiro com uma porta gaiola, com o ferro colocado em seu sítio e ouve a primeira de muitas ovações cravando depois mais um ferro à tira, de boa nota. Nos curtos, com batidas ao piton contrário vai criando elam com o público e embora algumas batidas sejam demasiado pronunciadas levando a que o toiro não fique de baixo do braço, vai-se aprimorando e sempre comunicativo, consegue no seu quinto e último ferro, talvez o melhor da lide.
Luís Fera foi o escolhido para pegar este exemplar. Na primeira tentativa não aguentou os derrotes e saiu com violência. Na segunda, o toiro não derrotou e entrou pelo grupo dentro consumando a pega junto às tábuas.
Os artistas agradeceram a ovação nos médios
Para o terceiro da noite estava o segundo Ribeiro Telles da noite, o João. Começa com dois ferros à tira e segue utilizando quase sempre a mesma receita mas empolgando cada vez mais o público com sortes ao piton contrário, às vezes um pouco exageradas. Foram quatro ferros cheios de vontade de chegar ao público mas por vezes descurando o remate da sorte. Para cravar o quinto e sexto foi buscar outro cavalo, imprime mais velocidade e com a sorte bem marcada, o público vai ao rubro! A praça estava em apoteose.
João Ventura saltou para pegar este toiro que se apresentou na pega com “gatos na barriga”.
A primeira tentativa parecia que ia dar uma grande pega mas com dois derrotes junto às tábuas o toiro desfez a pega e só na quarta tentativa, com ajudas carregadas, se conseguiu consumar a pega.
O cavaleiro agradeceu nos médios sozinho, já que o forcado não quis saltar à arena.
De Espanha vinha Andrés Romero um “rejoneador” que se vê com gosto. O primeiro ferro é colocado sem definir a sorte, quase dá uma volta à arena e às tantas aproxima-se do toiro e crava. No segundo, já é algo parecido com uma tira. Nos curtos crava ferros a “quiebro” deixando alguns de belo efeito, por fim troca de montada e crava mais dois curtos e um palmito que não acrescentaram nada à lide, dado que o toiro já quase não andava.
Estava reservada para Fernando Parente a pega da noite: um silêncio brutal durante o cite com muita calma, alegrando só mesmo no final. A arrancada pronta do toiro e o bem recuar do forcado foi meia pega, depois o grupo ajudou como mandam as regras e é bom ver um grupo transformado numa equipa homogénea.
Ambos os artistas agradeceram nos médios.
António Prates parece que cresce em cada oportunidade que tem. Começa logo nos compridos com sortes ao piton contrário, o que não é hábito nos cavaleiros que começam com sortes à tira, para ver como reage o toiro. Nos curtos, começa com um ferro em sorte muito aberta mas mostra uma boa brega, colocando o toiro como lhe convinha e crava mais quatro ferros de boa nota dando vantagens ao toiro, lidando de frente com muito aproposito. Mudou de montada e cravou mais um ferro que não acrescentou nada à lide já efectuada.
Foi escalado para pegar este toiro Martim Cosme Lopes que aguentou derrotes fortes mas foi desfeiteado junto à trincheira; ao segundo intento a investida foi dura, suportou outra vez fortes derrotes mas o grupo fechou e consumou uma boa pega, terminada com a exibição de Tiago Ribeiro, um dos melhores rabejadores de sempre e ex-cabo do grupo. Foi bom voltar a vê-lo.
O terceiro elemento da família Ribeiro Telles, o Tristão, ainda amador, veio provar que o que trás na alma é alegria e vontade de fazer as coisas bem feitas. Abriu a actuação com duas sortes à tira e nos curtos foi desenhando uma lide em crescendo; o toiro fechou-se um bocado em tábuas, o que lhe deu mais trabalho e treino para o que há-de apanhar pelo seu caminho. Foram cinco ferros curtos, uns mais conseguidos do que outros, algo espalhados pelo corpo do toiro mas vendo-se aqui nitidamente a escola Telles, poderemos dizer que da Universidade da Torrinha sairá mais um licenciado. Para doutor ainda tem que esperar mais um pouco. O mestre é bom e o aluno também mostra boas bases.
Este toiro que fechou a corrida também não foi fácil para os forcados. Na primeira e segunda tentativas foi duro com os homens das ramagens e na terceira, foi agarrado como pode ser.
No final, apenas o cavaleiro esteve nos médios a ouvir os aplausos porque o forcado não sentia ter merecido tal destaque.
Uma boa corrida para terminar a Feira de Setembro de 2020 na Moita.