A Corrida das Festas em honra de N.ª Sr.ª do Carmo de 2018, em Moura, registou ¾ de entrada, à vista. Noite agradável e uma corrida que se antevia de muito interesse dado o conhecido grau de exigência dos produtos da ganadaria de Veiga Teixeira e as também conhecidas características dos três Cavaleiros anunciados, dois Grupos de Forcados com provas dadas e o atractivo era suficiente para encher, realmente, Moura. Mas a “afición moderna” já não pensa assim…
Dizer que o Curro estava díspar de apresentação, na maioria muito rematados e com idade, um ou outro mais pequenote em relação a seus pares e nem sempre aparentaram o peso anunciado. De jogo também díspar tiveram um denominador comum: Exigiram, praticamente todos. De formas diferentes mas a emprestar interesse, emoção, transmissão, dificuldades e, também classe, no global do curro. Tiveram “assunto”. Pena que os capotes durante as trocas de montada e o piso no centro da arena (muito pesado) tenham por vezes tirado andamento e faculdades…dois flagelos difíceis de erradicar.
Luis Rouxinol andou fácil e diligente com um primeiro que apertava nas viagens e carregava nos remates com poder, mas pelo seu caminho e com muita classe (talvez bravo?! Faltam as varas). Boa serie de compridos a ganhar, inteligentemente, superioridade na contenda e nos curtos andou diligente em lide correcta e sem arriscar mais que o racional. Toreria, seriedade e experiencia. No seu segundo, o mais cómodo da noite, andou mais ao ritmo do agrado do publico “dito de sol”, procurou chegar-se mais, também correcto e no registo habitual de perfeição e domínio. Cravou no sitio e rematou com ladeios vistosos a ferragem. Levou ao limite a codicia e nobreza do oponente com este a chegar exausto ao final da lide, tendo faltado gás para o remate de apoteose que procurava e merecia. Esteve bem, como é seu timbre.
Vitor Ribeiro voltou como sempre andou, com raça, digno, valente e profissional. O seu primeiro tinha codícia e queria colaborar, mas faltava-lhe andamento. Cuidou-o muito. Bem nos compridos a atacar. Nos curtos procurou mais o brilhantismo das reuniões correctas e com viagens de frente, mandonas e reuniões cingidas que chegaram ao publico. Soube reunir as condicionantes e cumprir bem a missão. No seu segundo esteve lutador, num manso difícil, fechado em tábuas, que investia aos arreões, puxou da “tarimba” de profissional e foi para cima dele. Esteve honesto em porfiar para deixar a ferragem com qualidade e seriedade. Viajou de frente nos compridos a dizer quem mandava ali e entrou toiro dentro nos curtos, a reunir justo e a cravar no sitio com verdade. Pena que o público já não saiba valorizar estas lides. É que geralmente os mansos são os que dão os grandes e consistentes triunfos de lidadores e profissionais. Veremos o que acontece á medida que for recuperando o “placeamento”. Gostámos!!
“Placeado”, motivado, confiante e “com praça” está Francisco Palha! Sente-se isso pela forma madura com que anda. Tocou-lhe em Moura o lote mais complicado: Dois mansos de solenidade! Entendeu ambos com muito profissionalismo, soube sempre por onde tinha de andar e onde não os podia deixar ganhar a luta, permanente. Nunca perdeu os “papéis” nem se desnorteou, em ambos deixou ferros com muita verdade “de toureador”. Recto, frontal e pausado nas viagens, controlando as difíceis condições dos oponentes, arriscou q.b. mas a reunir justo, de frente e a cravar de alto-a-baixo! No violento sexto esteve raçudo a entrar-lhe em terrenos apertados e mandar num verdadeiro “tunante”, tendo chegado ao publico. É certo que sofreu um ou outro toque, mas foi porque andou na cara dos toiros. Confirmou a boa senda que leva este ano!!
Nas pegas a noite foi emotiva e tecnicamente muito interessante. Os “Teixeiras”, no global, empregaram-se nas viagens, puseram a cara no sitio e depois empurraram com pata e com mais ou menos impetuo em função das faculdades e de alguma maldade, é certo. Tiveram um denominador comum, não permitiram erros dos caras e foi isso que fez a diferença quanto ao numero de tentativas.
Mais consistente, no global de actuação de Grupo, o de Alcochete, Diogo Timóteo e Francisco Gaspar (estiveram bem tecnicamente à frente dos seus toiros e tornaram fácil a missão por isso mesmo) ambos à 1ª tentativa. João Guerreiro dobrou á 1ª (bem a receber e a fechar-se num toiro que se lesionou entre tentativas) José Freire que na sua tentativa saiu lesionado após ter caído a recuar. Muito coeso nas ajudas. Uma actuação de êxito.
O Real Grupo de Forcados Amadores de Moura teve o lote mais violento. Sem desvalorizar tal facto acreditamos que uma melhor execução técnica dos caras a mandar nas investidas e a recuar com”temple”, teria facilitado a noite. João Cabrita resolveu estoicamente com ajudas carregadas à 4ª. David Pratas fechou-se à 3ª. E Rui Branquinho esteve enorme de valentia, técnica e mando à 2ª diante de um TGV, literalmente! O último tinha “más ideias”, felizmente que a única forma de se ver livre do forcado que aprendeu foi o empurrar, ao invés de disparar derrotes e bater, como fez quando o Grupo quis largar. Pega de delírio geral, com uma viagem de uma fera a avançar para uma presa, reunião correcta, forcado fechado, abriu o turbo e disparou até um embate violentíssimo contra tábuas com o cara e José Marques (o veterano “penalty”) que nas 3ªs abriu o peito, fez de almofada nas tábuas e foi crucial para que Branquinho se acomodasse na cara e percorre-se mais metade do perímetro da arena na cara do toiro, como Grupo a tentar chegar e a não conseguir e com elementos do Grupo de Alcochete a saltar e a tapar a fuga do manso. Emoção maior…pela mão dos Forcados!
Dirigiu com facilidade Agostinho Borges, auxiliado pelo Dr. Feliciano Reis e abrilhantou a Banda de Alcochete.
Valeu a pena a noite, para nós…para muitos de certeza nem por isso. Não houve folclore nem toirecos de corda…