Recentemente o PAN, o Bloco de Esquerda e os Verdes levaram novamente à Assembleia da República propostas de projectos de lei que tinham como objectivo limitar a actividade taurina, ainda que de forma indirecta. Estes partidos, e uma petição da Animal, pediam o fim de subsídios à actividade taurina, directos ou indirectos, por via das Câmaras Municipais.
Se é verdade que já escrevi aqui no Toureio.pt que o sector taurino deve procurar distanciar-se cada vez mais de qualquer tipo de apoio financeiro público, também escrevi que esses apoios e essa defesa da festa brava deve ser conduzida sobretudo pelas Câmaras Municipais que são quem melhor conhece as vontades dos seus cidadãos.
Sem querer debater novamente os objectivos destes projectos apresentados e que foram bem defendidos pelos deputados que assumiram a defesa da tauromaquia, quero no entanto especificar alguma da demagogia que mais uma vez foi utilizada nas propostas apresentadas no nosso Parlamento.
O Pessoas-Animais-Natureza (PAN) volta mais uma vez a misturar alhos com bugalhos, ao dedicar uma grande parte da sua proposta à vertente da sensação animal do toiro, quando o projecto em questão se debruçava sobre o fim dos apoios públicos. Mas, ainda assim, mais grave que isso são as constantes afirmações sem fundamento apresentadas no projecto.
Começa logo por dizer o PAN que “a tauromaquia é uma actividade que tem vindo a sofrer um grande declínio, já que cada vez menos pessoas concordam com este tipo de entretenimento”. Baseado em quê é que este partido sustenta a sua afirmação?
Mais à frente diz novamente o PAN que, “devido ao cada vez menor interesse e procura dos espectadores por este tipo de actividade, a tauromaquia não é uma actividade sustentável” e que “por tudo isto, a tauromaquia não é economicamente viável. O que sustenta esta indústria são os apoios, subsídios e financiamentos públicos”. Eu não tenho a certeza mas diria que o PAN não conhece a realidade empresarial do sector para poder fazer afirmações destas, partido da conclusão para chegar às ideias que pretende numa inversão completamente despropositada da argumentação.
Já o Bloco de Esquerda, que devido ao exemplo de Salvaterra de Magos não teve grandes hipóteses de argumentação, apresentou uma proposta menos especifica do que o PAN, utilizando ainda assim a mesma técnica do PAN e já agora também dos Verdes, de misturar o objectivo da proposta com o verdadeiro objectivo que é o fim das corridas de toiros, misturando a vertente empresarial com a vertente cientifica.
Quero ainda assim deixar uma palavra de apreço para com os Verdes que, apesar de terem objectivos distantes daqueles com os quais me identifico nesta matéria, apresentaram uma proposta intelectualmente honesta, referindo, entre outros que, “esta não é uma questão que recolha a unanimidade” e que “o extremar de posições nesta matéria pode levar uns a vencer sobre os outros, mas nunca levará ao convencimento dos vencidos”, mostrando saber que este é um tema que merece sobretudo ponderação, bom senso e sobretudo respeito pelas liberdades.
O sector taurino conquistou com a rejeição destes projectos mais uma vitória, mas o claro objectivo de pôr fim ao sector tauromáquico não está encerrado e continuará na agenda do dia. Para já as autarquias conseguiram manter a sua independência de decisão, num sector em que ninguém melhor que os autarcas sabem qual é a vontade do povo e que enquanto essa vontade for a defesa da festa brava, ela deve ser defendida por esses responsáveis políticos, de forma desassombrada. E agora que mais uma “batalha” política foi ultrapassada, voltemos descansados, pelo menos até Setembro, aos toiros.