Segunda-feira, Outubro 14, 2024
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O essencial que tem faltado…

Bem, visto que o primeiro artigo teve mais sucesso do que esperava tive que regressar com mais um artigo, desde já um muito obrigado a quem o leu, e um abraço especial ao Hugo Calado que sem ele nada disto seria possível. Esta semana irei dar novamente a minha opinião, volto a frisar de forma isenta, sem fazer fretes a ninguém, nem contra ninguém.

Este segundo artigo vai tratar a essência, (ou a falta dela), na festa Brava. A esta altura estarão a pensar lá está ele a “engonhar”, e não revela já o assunto.

Ora pois bem:

Mas qual a essência da Tauromaquia?

Que elemento é indispensável para que haja grandes corridas de toiros?

O mais importante para que os cavaleiros, forcados, toureiros, saiam realizados e satisfeitos com as suas faenas?

Pois bem, esta semana venho falar do meu ponto de vista, e da minha opinião sobre os Touros que atualmente se lidam em Portugal.

Quantos aficionados já foram a Praças onde o cartel é muito apelativo, e no fim ouvir expressões como: “faltou toiro”, “pouca raça”; “touros fracos”, “Cartel muito bom, para pouco touro”, “Não valeu o dinheiro do bilhete”, entre outras..? Eu já o ouvi e já o disse algumas vezes.

E isto acontece porquê? Se está um grande cartel montado, excelentes grupos de forcados, grande afluência de público, tudo reunido para ser um “corridão”, e no fim as pessoas não saem satisfeitas, porquê?

Na minha opinião, e pelo que me apercebo, isto acontece porque de há uns anos para cá, os cartéis começaram-se a fazer ao contrário. Mas ao que se refere ele por “ao contrário”?

Refiro-me á montagem dos cartéis, ou seja, primeiro escolhe-se os cavaleiros, e depois eles dizem qual a ganadaria ou ganadarias que lhes dá jeito. Depois em praça vemos toiros constantemente com o focinho no chão, ou toiros que mal se mexem, atingindo com frequência mais de 550 Kg aos quatro anos. Touros esses deixam fazer tudo sem qualquer raça; touros esses, que normalmente são baixos mas bastante pesados. A maior parte não tem força nas patas quando o grupo de forcados lhes cai em cima muitos deles caiem.

Mas isto não está só em quem monta cartéis, começa nas ganadarias, de há 10/15 anos para cá, ao perceberem o que os toureiros mais queriam, passou-se a ter touros monoencaste, única e quase exclusivamente, sim falo de “Murubes”. A oferta que as ganadarias começaram a oferecer aos empresários, de acordo com o que alguns cavaleiros desejam, começou a tornar-se “difícil” ter toiros de outro tipo.

Não vou falar muito de encastes porque não é um assunto que domine minimamente, apenas o que leio, e me tento informar, por isso não vou alongar este tema. Mas o que vejo nas praças lusitanas, é que para aí 85% dos toiros lidados são touros “Murubes” e com as características que enumerei em cima, e isso eu sei ver.

Mas Porquê só “murubes”? Será porque dão uma maior facilidade para galopar sem muita velocidade, e permite aos toureiros (alguns) fazer aquelas coisas todas em cima do cavalo (que ás vezes tem mais de circo do que de toureio)?

Será porque são também os que dão maiores “êxitos”, e que aqueles que menos perigo provocam durante uma lide? (ficam as perguntas).

 Pois bem, já estamos a chegar á parte do porquê dizer que os cartéis são montados ao contrário, e conforme a vontade dos cavaleiros (alguns), se leram as perguntas que fiz em cima.

Há quanto tempo não vemos “nós” (aficionados) uma lide que faça suar a sério os 3 ou 6 ou 7 toureiros em praça?

Há quanto tempo não vemos e sentimos (nas bancadas) aquele perigo, aquele “medo”, aquela Emoção que aquele toiro transmite, como se sentia no surgimento da tauromaquia e o motivo de a Tauromaquia ter ganho tantos aficionados em Portugal ao longo destas décadas todas? Puxando pela memória de que corridas nas últimas temporadas nos lembramos de saímos da praça, também cansados? Cansados de suster a respiração com o perigo, emoção, dificuldades dos toiros? Cansados de em “espírito” estarmos lá em baixo com as dificuldades sentidas pelo cavaleiro, ou com as tremendas dificuldades do forcado em conseguir aguentar os “derrotes” que um toiro com força, com raça, oferece a uma corrida de toiros?

Pois, eu tenho uma memória dessas há dois anos, mas foram apenas dois touros (Fernandes Castro), se calhar haverá pessoal que terá que recuar 5/10 anos para se arranjar uma em que se tenha sentido tudo o que se deve sentir numa corrida. E outros se calhar lembram-se de uma da época passada.

Mas ainda há outra questão que me intriga, Porquê que deixamos de ter com regularidade touros “Miúra” em praças lusas? Será porque são touros que são maiores, com raça, que oferecem um perigo maior? Será porque não interessa a alguns toureiros porque depois não alcançam os êxitos que seria suposto alcançarem? Ou será por uma questão de serem touros bem mais caros? (sempre ouvi dizer que a qualidade paga-se), e se já há preços tão caros porquê não haver também touros ao nível dos preços?

Ou o porquê de uma ganadaria como (Murteira Grave), touros difíceis, levar tão poucos curros a corridas?

Deixo uma pergunta, já experimentaram fazer um inquérito aos aficionados se querem muitos mais “Miúras”, “Murteira Grave” em praças lusas, em vez do que se tem visto na maior parte das corridas? Algo me diz que iriam ter uma surpresa com os resultados…. Mas como não vou ter o inquérito para comprovar…

E uma colhida, simples que seja, há quantos anos não há por cá? Vejamos em Espanha, a época começou á pouco tempo, e em duas semanas tivemos Padilla, Roca Rey, a sofrer colhidas a sério. E isto acontece porque em Espanha não há “Toirinhos”, há touros de verdade, touros “Miúra”  touros com raça, com força, sente-se o perigo e a emoção que ele acrescenta á festa, toiros de Verdade. E volta e meia há colhidas porque faz parte da tauromaquia, como as lesões fazem parte do futebol, não deveriam existir mas fazem parte, infelizmente.

Atenção este parágrafo que escrevi pode parecer que desejo algo de mal, muitas colhidas, forcados no chão, mas não é nada disso, muito pelo contrário, desejo que tudo corra bem, que ninguém se aleije, e que o público saia com vontade de voltar querer ver mais, e mais, mas com a verdade pura e dura da Tauromaquia. E a verdade pura e dura é ter emoção, perigo, cansaço, e o objetivo de uma lide é conseguir lidar um toiro com êxito, sem sofrer nenhuma colhida, nem haver danos graves, o publico delirar, essa é a beleza da tauromaquia que faz mover tantas massas. E o que se devia sentir sempre numa corrida de Toiros em Portugal.

Antes de passarmos á Faena Musical desta semana, devo terminar o artigo dizendo que felizmente e dando os parabéns a alguns Toureiros que não se negam a nada, nem a ganadaria nenhuma, sejam “murubes”, ou não, é para lidar, e se são bons provam-no lá dentro e não apenas com algumas ganadarias. É assim que deve ser, e é por isso que esses fazem mais corridas que outros, e se calhar tem mais fãs que outros.

E, os meus parabéns, também para aqueles empresários que cada vez mais prezam em ter touros “diferentes” nos cartéis por si montados. Curiosamente já foram anunciados para duas praças, uma alentejana e outra Ribatejana, por dois empresários que querem ter touros a sério, um curro de toiros fora do habitual em Portugal e garantidamente ai está tudo reunido para dois “corridões”.Quem for a essas corridas é quase certo que irá sentir muita emoção, perigo, e iremos ter o essencial da tauromaquia, o Toiro, a fazer suar os toureiros, e a colocar em sentido os forcados.

Eu sei que o artigo pode ser um pouco polémico, e ser encarado como uma grande critica a alguns toureiros e empresários, e ser menos lido que o primeiro, mas garantidamente que o que aqui escrevi muita gente já o disse, e pensou após uma corrida de touros que “lhe soube a pouco”, e não é intuito criticar ninguém, simplesmente é a forma como um aficionado pagante tem visto as coisas.

Vamos então ao espaço dedicado á Música, e a Faena Musical desta semana é um pasodoble que vem ao encontro do tema do artigo desta semana, é a seguinte:

EH TOIRO – José da Silva Domingues

Sobre este pasodoble há pouco a dizer, nem há assim grande história é um pasodoble começa com uma mistura do toque de saída dos touros dada em Portugal e Espanha. No seu início, para quem for ouvir, leva um pouco a entender que será a saída e o ambientar do touro á arena e o estudo do toureiro a ele. Depois tem uma parte mais forte e agressiva que leva-nos a querer que é as investidas bruscas que um toiro tem durante uma lide, depois tem uma parte mais calminha, como em todas as lides. Por fim o culminar com uma parte forte e pomposa, que nos levará para o fim da lide e as ovações. Há a acrescentar que é um pasodoble de compositor português chamado José da Silva Domingues. É uma dica de audição a quem gosta de pasodobles taurinos, e se sentirem algo de diferente do que eu enumerei digam.

Despeço-me desejando um bom início de Primavera e uma excelente semana a todos os leitores.

Uma grande Beijo para as aficionadas, e um grande abraço aficionado para eles.

Até á próxima e boas corridas!!!

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