Primeiramente uma declaração de interesses, sou optimista por natureza, não pretendo ser um profeta da desgraça, mas por muito optimistas que sejamos, convenhamos que o cenário não é famoso.
Adivinha-se uma catástrofe ao nível económico e social dentro da tauromaquia, Isto se não houver mais iniciativas tendentes a minorar situações de carência no que toca a todos aqueles que vivem da, e para a Festa.
Todos os países de tradição taurina estão afectados, e os danos são já irreparáveis.
No caso português, falo principalmente daqueles que são prejudicados pelo cancelamento dos espectáculos tauromáquicos, situação decorrente das restrições impostas pelo governo, devido á pandemia que nos atinge.
Recordo que esta crise pandémica agravou ainda mais a situação das ganadarias, dos toureiros, cavaleiros, de todos aqueles que se movimentam e ganham a vida nas praças de toiros, e nas empresas ligadas ao sector. Afectou também aqueles novilheiros, toureiros e todos os que lutavam por uma oportunidade ao sol, em suma todos aqueles que, em tempo normal contribuem para a grandeza da Festa de Toiros.
Aqui e ali vemos iniciativas solidárias com peso, bem organizadas e com o empenho das grandes figuras do toureio e das organizações taurinas, angariando fundos destinados a ajudar quem mais precisa.
Vejo os ganadeiros devido á sua inserção no mundo rural, tentando obter os apoios do Estado através do Ministério da Agricultura, mas e os outros, os que dependem do Ministério da Cultura?
Tive conhecimento da carta escrita á Ministra da Cultura, por artistas e profissionais do toureio bem como as suas organizações representativas, pedindo uma reunião para apresentarem “o seu plano de medidas para esta fase de crise e para o momento de retoma dos espectáculos”. Boa iniciativa, com um grande significado, mostrando também a decisão e o empenho dos agentes tauromáquicos.
Aqui ao lado, na vizinha Espanha, no passado dia 22 de Abril, a seu pedido reuniu o sector taurino no Ministério da Cultura, e o próprio titular do cargo, José Manuel Uribe, já se comprometeu a incluir a tauromaquia nas medidas de apoio destinadas á cultura, mais estando classificada como Património Cultural, será a mesma objecto de medidas específicas. Há um reconhecimento explícito desta realidade cultural, por parte do referido ministro, o que representa uma sólida garantia.
Será que aqui, a ministra vai repensar a sua anterior atitude, e de uma vez por todas reconhecer que pertencemos de facto á cultura que ela tutela?
“Mais do que defender a tauromaquia, agora o importante é que existam condições para o seu regresso”, disse alguém algures, mas se não a defendermos, se não a divulgarmos seja onde for, nos media ou nas redes sociais, será que ainda não entendemos que estamos estigmatizados pela elite governante, apenas por formarmos parte desta grande família que é a tauromaquia?
Não tenhamos ilusões, não podemos apenas mendigar uma presumível linha de apoio de quem não pode nem ver-nos, temos é que exigir aquilo a que temos direito por fazermos parte da cultura portuguesa, sem hesitações, sem medos, mas com frontalidade e de viva voz. Se calhar como dizia o fado: “até que a voz me doa”!
Ninguém espere benesses (nem nós as queremos…) de quem nos odeia, não pedimos esmolas, apenas que se respeitem os nossos direitos e as nossas liberdades. Mas será que eles entendem isso, será que isto é uma verdadeira democracia, quando vivemos numa sociedade em que só cabem eles?
Resultado, não levamos nada e, vamos ter que nos reerguer sozinhos.
Avizinham-se tempos de crise económica e social, se é que não estamos já a sentir os seus efeitos, será que não deveríamos estar já delineando estratégias para responder à mesma, quando se der o regresso á normalidade das nossas vidas?
Podemos e devemos questionar, que existirão coisas que estarão menos bem, debateremos isso na ocasião certa, este não é o momento de desunir-nos, esta é a altura de coesos, nos juntarmos em torno das nossas organizações e lhes dar força, para reivindicar o nosso direito a ser respeitados e ajudados da mesma forma que o serão as outras instituições do mundo cultural.
Sempre fui crítico tentando ajudar, e apontei situações com as quais não estava de acordo, inclusive apresentei propostas que julgo válidas para o futuro da tauromaquia no nosso País, fi-lo e farei desinteressadamente e com a única intenção de ajudar e, como dizem os nossos vizinhos espanhóis pôr; “mi granito de arena”, para construirmos o futuro da festa de toiros em Portugal.
Sem dúvida que a tauromaquia não será a mesma que nós conhecemos, um vírus pôs-nos em xeque, e no retorno ainda nebuloso, novas exigências se nos deparam no mundo taurino que conhecemos. Muita coisa tem que ser adaptada aos novos tempos, e temos que apresentar a cultura tauromáquica de forma aliciante, porque é imperioso ganhar novos aficionados entre a juventude, que pode sem dúvida ser um garante para o futuro da arte e da cultura taurina que desejamos.
Permanecerei nas fileiras da afición e como taurino direi sempre presente, até porque em tempos de crise o optimismo deve ser a palavra-chave!