Sábado, Outubro 5, 2024
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“Os cachets já são “à conta” para o jantar da corrida e eventuais deslocações”, diz cabo dos Forcados do Ribatejo

Estamos em pleno defeso, altura em que são feitos balanços e se prepara a próxima temporada. Neste sentido o Toureio.pt, tem realizado uma série de entrevistas com vários intervenientes da Tauromaquia portuguesa a fim de compreender como decorreu a temporada que findou e como se prepara a próxima.

O Toureio.pt esteve à conversa com Pedro Espinheira, Cabo dos Forcados Amadores do Ribatejo, um dos grupos que mais atuou em 2018. Uma entrevista na qual Pedro Espinheira analisa a temporada do grupo que comanda, comenta a situação atual da forcadagem, bem como da Associação Nacional de Grupos de Forcados.

Uma entrevista que poderá ler de seguida:

 

“Grupo atravessa um ciclo de passagem de valores bastante saudável.”

 

Toureio.pt (T) – Pedro, começo esta nossa conversa por lhe pedir que faça um balanço à temporada 2018 do Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo…

Pedro Espinheira (PE) – Uma temporada única, algo marcada por uma ligeira redução do número de espetáculos, que no entanto primou pelo aumento da qualidade dos mesmos.

Marcamos presença em 16 espetáculos, sendo 14 em praças fixas e dois em praças desmontáveis. Pegámos 36 toiros, de 17 ganadarias diferentes, em 62 tentativas, fazendo uma média de 1,72 tentativas/toiro. Fardaram-se 24 forcados esta época, foram utilizados 14 forcados da cara diferentes e 8 primeiros ajudas.

Houve estreias nesta temporada, houve também despedidas, pelo que o Grupo atravessa um ciclo de passagem de valores bastante saudável.

Abrimos a nossa temporada em março em Santarém, e fechámos em outubro no concurso de ganadarias de Vila Franca de Xira, passando pelo meio por praças distintas como Portalegre, Azambuja, V. N. Barquinha, Monforte, Lisboa, Póvoa de Varzim, Figueira da Foz, Nazaré, entre outras.

Uma temporada de muita qualidade, e grande compromisso.

T – Esta temporada foram um dos grupos que mais espetáculos realizou. Como foi possível realizar estes espetáculos todos, numa altura em que outros grupos se queixam que não lhe são dadas oportunidades?

PE- O número de espetáculos tauromáquicos realizados no nosso país aumentou cerca de 10% (segundo recentes dados avançados pela APET). O número de espetáculos realizados pelo nosso Grupo diminuiu face a anos anteriores. Não estou a par do número de espetáculos realizados pelos restantes Grupos. No entanto, se ainda assim somos “um dos grupos que mais espetáculos realizou”, analiso este comportamento estatístico como uma homogeneização e estabilização do número de corridas por Grupo, pelo que, matematicamente, houve com certeza vários Grupos que aumentaram o seu número de espetáculos, não sendo este o nosso caso.

T – Foi uma temporada muito dura em termos de lesões dos seus forcados?

PE- Felizmente, esta temporada foi uma temporada feliz nesse aspeto, não havendo lesões de maior gravidade, além das mazelas mais típicas nesta atividade.

T – Quando foi a melhor corrida do grupo?

PE- Houve várias corridas com atuações francamente boas, no entanto destaca-se como a mais redonda a corrida de Lisboa, de onde saímos com duas grandes pegas à primeira tentativa, numa das corridas mais bonitas da temporada.

T – E se tivesse de eleger a melhor pega, qual seria?

PE- Houve, à semelhança das corridas, grandes pegas nesta temporada, sendo difícil destacar apenas uma. No entanto, poderei destacar a grande pega do Leonel Godinho a um toiro Casquinha na praça da Nazaré.

T – E já agora qual foi o pior momento do grupo este ano?

PE- Em Portalegre, um toiro de Pereda – La Dehesilla, que obrigou à única dobra desta época, tendo deixado o forcado João Espinheira bastante maltratado.

T – Qual foi a ganadaria que mais dificuldades colocou ao grupo?

PE- Não houve uma ganadaria em específico. Houve alguns toiros que colocaram dificuldade acrescida. Além do anteriormente referido, pode salientar-se também um toiro de Manuel Veiga na Figueira da Foz e um de Paulo Caetano na Aldeia da Ponte.

 

“Felizmente temos um Grupo muito versátil, e com soluções para qualquer tipo de toiro.”

 

T – E qual o é touro mais indicado para o grupo?

PE- Qualquer toiro é indicado. Felizmente temos um Grupo muito versátil, e com soluções para qualquer tipo de toiro.

T – Considera que a moral do Grupo este ano esteve em alta? A que se deveu?

PE- Sim, esteve. Muito graças ao facto de termos um grupo em que mais de metade são forcados bastante experientes, e que pegam juntos há alguns anos. O conhecimento de cada um sobre o Grupo, individual, coletivo, físico e psicológico, é preponderante para a moral estar em cima.

T – Falemos agora de 2019, que expectativas tem para a próxima temporada relativamente ao Grupo do Ribatejo?

PE- Melhorar, sempre. Manter o nível que temos vindo a construir nos últimos anos.

T – Já existem alguns espectáculos apalavrados ou até mesmo certos?

PE- Até ao momento, não.

T – Qual vai ser a principal mensagem que ao longo dos treinos de preparação da temporada vai transmitir aos seus forcados?

PE- A mensagem é sempre a mesma. Aos mais experientes que, desfrutando do nosso fantástico ambiente interno, aproveitem cada treino para limar arestas, e prepararem-se física e psicologicamente para tudo. Aos mais novos, que aproveitem cada treino para se mostrarem, e conhecerem-se a si próprios quanto às suas capacidades, potenciais, limitações, etc.

 

“Temos sido tratados com o mesmo respeito e consideração que temos por cada empresário.”

 

T- Os forcados são bem tratados na tauromaquia por parte dos empresários?

PE- No que toca ao nosso Grupo, até à data, não há nada a apontar em contrário. Na generalidade temos sido tratados com o mesmo respeito e consideração que temos por cada empresário.

 

"Os cachets já são “à conta” para o jantar da corrida e eventuais deslocações"

 

T – Em várias assembleias gerais da ANGF fala-se muito em grupos de forcados que "pagam" para pegar. Como vê essa situação? Isso acontece mesmo? Como pode ser evitado?

PE- Custa-me crer que hoje em dia aconteça. Os cachets já são “à conta” para o jantar da corrida e eventuais deslocações, não falando que é com um sacrifício enorme que um grupo consegue angariar 3, 4 ou 5 mil euros para o seguro obrigatório, e em alguns casos são os próprios forcados a pagá-lo. Não sei se seria possível sequer um Grupo abdicar do cachet relativo ao espetáculo, muito menos pagar.

A acontecer, vejo-o de forma negativa, é desonesto, e ocupa um lugar de quem o poderia ocupar por mérito. No entanto, não é nada novo, é uma conversa com barbas, que já se ouvia há 30 anos, há 20 e há 10 anos atrás. No entanto não vejo como uma preocupação a ter por parte da ANGF, pois a existir casos destes, são incontroláveis. E a verdade é que os Grupos mais tarde ou mais cedo saturam, e mudam ou tentam mudar de postura e de posição perante a festa, e que no dia em que este ciclo acabe, os empresários que eventualmente recebiam, não serão empresários que vão pagar, e aí, um grupo nesta situação, é posto no lugar através do ciclo natural da vida.

A existirem casos destes, que repito, me custa a crer, a única via para o evitar seria todos os Grupos andarem da mesma forma na festa, incluindo associados e não associados, não havendo desta forma qualquer alternativa a um empresário que não seja a legal e honesta.

 

"Outro problema, senão o maior, é o facto de um Grupo que faz 4 ou 5 corridas num ano, pagar tanto como um que faz 20 ou 25"

 

T – Outro dos assuntos que muita polémica tem dado é os seguros dos Forcados, na sua opinião como poderia este assunto ser resolvido?

PE- Os problemas maiores relativos a seguros são no meu entender dois:

– Não haver várias seguradoras com propostas de seguro para as condições exigidas (o que, com o fator concorrência poderia tornar os valores mais acessíveis), pelo que, havendo apenas uma ou duas a operar nestas condições, o poder negocial está sempre do lado de lá;

– Outro problema, senão o maior, é o facto de um Grupo que faz 4 ou 5 corridas num ano, pagar tanto como um que faz 20 ou 25.

O modelo ideal, seria sempre uma linha de seguro aberta por cada Grupo de forcados, em que na semana antecedente a determinada corrida, seria ativado o seguro para x elementos durante o período da mesma, pagando o Grupo um determinado valor por forcado por corrida, modelo este que seria mais justo para aqueles que realizam menos espetáculos. No entanto, não seria de descartar o atual modelo, ficando sob a esfera de cada Grupo a decisão do modelo a contratar.

T – Recentemente veio também a publico que o Ministério Públio poderia investigar a ANGF por causa das contas da associação, na sua opinião as contas da ANGF tão assim tão escuras ou isto não passam de “fake news”?

PE- Não tenho acompanhado o desenrolar dessa notícia. Não sei se serão “fake news”, se notícias exageradas, se verdadeiras.

Só o Ministério Público poderá responder a isso, a seu tempo, considerando o mesmo se existe matéria para acusação, ou não.

T – Acha que a arte do forcado é valorizada e suficientemente conhecida pelos aficionados?

PE- Valorizada sim, claro, é o lado mais romântico, o de maior risco e o que chega mais rápido aos corações das bancadas.

Suficientemente conhecida creio que não por grande parte dos aficionados. No entanto há sempre uma fatia que conhece, e sabe sobre a pega em si.

T – Como analisa o actual momento da tauromaquia em Portugal?

PE- Analiso de forma entusiasta e com bastante ilusão.

A globalização veio trazer um novo paradigma, que permite a toda a gente acompanhar a festa em tempo real, tudo o que acontece, aconteceu e vai acontecer, pelo que há cada vez mais o manifesto do gosto que cada aficionado tem, ao escolher muito mais minuciosamente o que gosta e não gosta, tendo os aficionados mais critério hoje em dia.

Vimos várias praças esgotadas nesta temporada e o número de espetáculos aumentou ligeiramente, revelando uma estabilização nos valores que agora regista.

As corridas televisionadas mostraram mais uma vez que é uma proposta cultural pela qual as pessoas param para ver.

Haverá sempre saudosistas, e escutar-se-á sempre o “no meu tempo é que era”, no entanto, e embora não seja um mundo perfeito, a festa está hoje muito viva, muita gente nova a ir aos toiros, o que não representando uma garantia, nos faz encarar um futuro próximo com ilusão de que a festa está saudável.

T – Acha os aficionados portugueses devidamente conhecedores da festa?

PE- Com a atual globalização, só não é mais conhecedor quem não quer. E o verdadeiro aficionado quer, e havendo mais informação que nunca, hoje há uma grande parte dos aficionados que conhece devidamente, e que está a par em tempo real dos acontecimentos, seguindo a festa de toiros como não se seguia à 20 anos atrás.

T – A festa precisa de sangue novo?

PE- Urgentemente. Principalmente no que toca ao toureio a cavalo e a pé. Novos ídolos, mais próximos das camadas jovens, de modo a garantir o futuro.

T – O que é necessário alterar rapidamente na tauromaquia nacional?

PE- Várias coisas, fico-me por uma:

A comunicação. O espaço dado à tauromaquia tanto em televisão como na imprensa generalista. É um meio de grande alcance, e uma das armas mais poderosas para apresentar e fazer chegar a festa a potenciais novos aficionados.

Não apenas em transmissão de espetáculos. Em programas, em notícias, jornais, até em revistas cor de rosa.

A festa precisa de visibilidade, precisa de chegar a todo o lado, e há muito caminho a explorar ainda.

T – Que mensagem quer deixar aos leitores do Toureio.pt?

PE- Que acompanhem o trabalho do Hugo no Toureio.pt, que é dos que ainda faz um trabalho competente e bastante dedicado, e que em 2019 vão pelo menos a mais um espetáculo do que foram em 2018.

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