Com a actual crise provocada pela pandemia do COVID-19, o sector da tauromaquia foi dos mais afectados. Dentro do sector da tauromaquia, os ganadeiros poderão ser dos mais prejudicados pelo número elevado de touros que serão lidados.
Neste sentido, o Toureio.pt entrevistou o presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, João Santos Andrade, para dar-nos a conhecer quais os prejuízos do sector e ainda o que está a ser feito.
Toureio.pt – Com a crise instalada devido ao Covid-19 e consequentemente com o cancelamento ou adiamento dos espectáculos tauromáquicos, podemos considerar que o sector Ganadeiro vai ser o mais afectado, dentro da tauromaquia?
João Santos Andrade – Todos os sectores da economia estão a ser afectados com o problema sanitário mundial que sofremos e a criação de Raça Brava de Lide não é excepção. Até esta temporada, no que concerne aos toiros para lide, estávamos num cenário equilibrado com a oferta ligeiramente acima da procura.
T – Quantos touros podem ficar no campo devido à paragem do sector?
JSA – Em Portugal estavam previstos até final de Maio 2020 cerca de 45 espectáculos, durante o mês de Junho 32, portanto se não houver espectáculos tauromáquicos até final deste mês seriam aproximadamente 77 espectáculos não realizados. Com a utilização de seis toiros em cada espectáculo, totalizam 462 animais. Se a proibição de espectáculos se mantiver durante todo o ano serão 230 espectáculos não realizados vezes seis toiros, o que dá um total de 1 380 toiros sem destino no mercado.
A estes números têm também de ser somados os animais utilizados nas tauromaquias populares (de rua) como a tourada à corda, forcão, largadas, picarias etc. que tem um número variável, mas que calculamos em cerca de 1200 animais. Em Espanha o excesso de toiros já dura há algumas temporadas, pelo que este ano a exportação deverá ser mínima. Com esta situação as exportações vão cair brutalmente. O ano passado exportaram-se para Espanha e França 450 reses bravas, sendo que o aumento das exportações tem vindo a crescer e estávamos a recuperar mercado de forma consistente.
T – O que acontecerá aos touros que depois não poderão ser lidados devido à sua idade?
JSA – Existem neste momento em Portugal cerca de 250 toiros da era de 2015 e que portanto em 2021 terão 6 anos, sendo que o Regulamento dos Espectáculos Taurinos impede a lide dos mesmos com mais de 5 anos. Esperemos que a maior parte ainda sejam corridos este ano, podendo os que não forem lidados serem aproveitados para as tauromaquias populares que não têm este limite de idade.
T – Já se apuraram os primeiros prejuízos? Se sim, em quanto milhares de euros estão avaliados?
JSA – Se o confinamento continuar e não existirem espectáculos tauromáquicos nem eventos populares em 2020 os prejuízos directo por perdas de vendas serão enormes, aos quais se juntarão mais alguns milhões de despesas indirectas da criação destes animais.
T – O que está a Associação a fazer em conjunto com os Ganadeiros para fazer face a esta crise?
JSA – Perante este cenário tão negro, deverá cada ganadaria adoptar as medidas que achar adequadas, não sendo descabido efectuar uma redução na camada, deixando ficar só os que considerar com mais aptidão, mas o prejuízo já está presente, com os toiros que não se poderão lidar. Se a temporada não se realizar os prejuízos serão de muitos milhões de euros.
T – Que tipo de apoios poderão os ganadeiros ter nesta altura em termos estatais?
JSA – Como é do conhecimento de todos, o Governo que está em funções não simpatiza com a tauromaquia, o Sr. Primeiro-ministro aumentou o iva nos espectáculos tauromáquicos, a Sra. Ministra da Cultura ainda há poucos dias foi à Assembleia da República para a audição parlamentar sobre os apoios à cultura e ignorou as perguntas feitas pelos deputados do CDS e do PAN sobre os apoios à tauromaquia. Vamos ver qual a resposta que a Sra. Ministra da Agricultura dará à carta que lhe foi entregue pelos deputados do PSD.
T- O que perspectiva para quando esta crise passa?
JSA – Estamos conjuntamente com os outros sectores agrícolas e pecuários, através da C.A.P. – Confederação dos Agricultores de Portugal a tentar obter formas de apoio do Estado, de modo a minorar este grave problema.
Por responder ficaram ficaram perguntas como se o valor dos touros poderia baixar e se já haveria ganadarias a passar dificuldades e em riscos de desaparecer.