Depois de cerca de nove anos sem toiros, a bonita cidade de Estremoz reinaugurou a sua praça chegando assim novamente a festa brava á cidade dos mármores.
O triunfo na noite inaugural coube sem dúvida aos Telles (António e João Jr) assim como á forcadagem (Montemor e Monforte), que tiveram uma noite de glória.
António Telles abriu praça com uma lide completa e extraordinária; quando se fala de toureio de verdade dentro do classicismo e do purismo e se vai buscar o exemplo sempre de António, podemos dizer que a lide de ontem em Estremoz foi a definição prática disso mesmo; uma lide que serve de bitola para tudo o resto do que se vê nas nossas praças.
João Telles Jr está sem dúvida a cumprir uma grande temporada e mostrou mais uma vez isso mesmo em Estremoz; com uma confiança inabalável, arrisca fortemente e o resultado só pode ser mesmo o triunfo; recebe de forma valente um toiro que saiu com uma pata de arrepiar; crava a ferragem curta sobretudo nos médios com ferros de arrepiar, cravando de alto a baixo como pouco se vê, levantou a praça; o público exige-lhe mais um ferro e os maiores aplausos da noite foram para ele; praça em pé.
João Salgueiro andou discreto nesta corrida; algumas passagens em falso, a um toiro com bastante sentido logo desde o inicio da lide; ferros de boa nota numa lide sem ligação; agradeceu nos médios sem dar volta.
Rui Fernandes depois de cravar a ferragem comprida de forma algo atribulada, foi nos curtos que se viu o melhor toureio do cavaleiro de Almada, com ferros ao piton contrário, que chegaram ás bancadas, o último teve remate com cingidas piruetas que agradou bastante ao respeitável que preenchia as bancadas do novel tauródromo com três quartos fortes.
Vitor Ribeiro andou um pouco irregular na lide do manso encastado que lhe toucou em sorte, consentindo alguns toques na montada e deixando alguns ferros de boa nota.
João Moura Caetano desenhou uma lide de menos a mais, conquistando nota alta no final; um toiro distraído e com sentido a que Caetano soube levar pelo caminho certo para cravar ferros de nota alta; o público sentiu a sua lide e pediu mais um ferro que serviu para rubricar mais uma grande actuação do toureiro de Monforte.
João Maria Branco “jogava” em casa e pela primeira vez na sua praça. Recebeu com valentia á porta gaiola um toiro que cedo se apagou, sendo que o terceiro curto já foi cravado a sesgo, uma lide regular que certamente não foi a sonhada para este importante dia.
A forcadagem teve uma noite plena de glória com as sete pegas á primeira tentativa, com os toiros sempre a investirem francos, com muita pata e emoção para os forcados; até pareceu fácil…
Pelos de Montemor: João da Câmara, Manuel Ramalho, Francisco Barreto e António Calça e Pina (que brindou ao Pai de José Maria Cortes) foram os solistas da noite.
O Grupo de Monforte executou a pega da noite por intermédio de Nuno Toureiro; Dinis Pacheco e Fábio Derreado foram os autores das outras duas pegas.
Os toiros pertenciam á Ganadaria de Pinto Barreiros, com quatro anos cumpridos, e estavam bem apresentados dentro do seu encaste; deixaram-se lidar com grande destaque para os lidados em primeiro e sexto lugar; se calhar com sangue ainda do famoso toiro “Ratão” , o famoso sobrero de Pinto Barreiros lidado em Madrid no ano de 44 por Manolete, considerada como a melhor faena de muleta deste mítico Toureiro, e de acordo com alguns críticos da época; a maior faena do séc. XX.
No inicio da corrida uma bonita procissão com andor de Nossa Senhora de Fátima e de todos os intervenientes, assim como as bancadas iluminadas por velas, deram um toque espiritual e singelo a esta longa mas inesquecível noite de fé e toiros.