A comemorar 10 anos de alternativa, o cavaleiro João Telles Jr concedeu uma entrevista ao Toureio.pt, na qual aborda a sua temporada comemorativa e as suas presenças confirmadas no Campo Pequeno e em Las Ventas.
Mas nesta, grande entrevista, Telles Jr faz ainda um balanço da sua temporada 2017, analisando ainda os seus 10 anos enquanto cavaleiro tauromáquico. O cavaleiro refere ainda como é o seu dia-a-dia e o seu lado mais pessoal.
Uma entrevista que poderá ler de seguida:
Toureio.pt (T) – Para começarmos esta nossa conversa, pedia-lhe que fizesse um balanço à sua temporada 2017?
João Ribeiro Telles (JRT) – Penso que foi uma temporada bastante positiva, em que dei mais um salto, e vejo cada temporada que passa como umas escadas e ir subindo degraus e acho que foi sem duvida mais uns degraus que subi e bastante bons, pois estive em todas as feiras de Portugal e em muitas praças esgotadas, venci prémios em praças importantes como Vila Franca, Chamusca e acho que obti uns triunfos que pelo menos eu não vou esquecer e pelo menos ficou marcado em muitos aficionados que viram essas corridas, como também o caso de Salvaterra, uma corrida do Teixeira dura, que tive um triunfo forte, que esgotou a praça… Vila Franca, Coruche, Idanha, acho que houve triunfos importantes…
T – Se o tempo voltasse atrás alteraria alguma decisão tomada o ano passado? Se sim qual?
JRT – Se o tempo voltasse para trás não mudaria nada, porque acho que fizemos as coisas certas e tomei as decisões mais acertadas, acho eu.
Tenho uma maneira de andar na festa que não mudo muito, por ser aqui, ali ou noutra praça qualquer
T – Não ter atuado em 2017 no Campo Pequeno magoou de alguma forma?
JRT – Não atuar na primeira praça do país, claro que magoa e é sempre mau. Acho que é mau para quem não é chamado. Mas para quem é chamado, como foi o meu caso, que fui chamado, que tentaram-me contratar várias vezes, mas não chegámos a acordo… Tenho uma maneira de andar na festa que não mudo muito, por ser aqui, ali ou noutra praça qualquer, mas que sem duvida que ficamos tristes quando chega à quinta-feira não vamos, mas acho que foi importante não ir, porque as condições não estavam… pronto não chegámos a acordo, mas felizmente este ano já chegámos e tenho a dizer que vou em melhores condições e acho que este ano, tanto para mim, como para o Campo Pequeno temos uma temporada em grande, sem duvida nenhuma.
T – Falando de 2018, que expectativas para esta temporada em que comemora 10 anos de alternativa?
JRT – As expetativas para esta temporada, de comemoração dos 10 anos de alternativa, não podem ser mais altas, pois estar anunciado na abertura do Campo Pequeno, estar anunciado no San Isidro em Madrid, estar anunciado já para uma segunda corrida no Campo Pequeno com as duas maiores figuras do toureio mundial que é o caso do Morante e Manzanares e estar anunciado já para outras bastantes feiras de Portugal, sem duvida que as expetativas são as maiores e olho para esta temporada como um sonho.
T- Recentemente numa entrevista disse que esta não será mais uma temporada. O que terá esta temporada de diferente?
JRT – Não será mais uma temporada, porque é a comemoração dos 10 anos de alternativa e estamos a preparar a temporada ainda com mais cuidado, nunca fui de tourear muito, mas este ano ainda com mais cuidado. Também é verdade que felizmente tem havido muitas solicitações para tourear, mas acho que estamos a gerir da melhor maneira e posso-lhe dizer que estou anunciado em todas as corridas importantes de Portugal e praticamente temos as feiras todas praticamente fechadas. Vou também aos Açores este ano, fui sempre às Sanjoaninas, nunca fui às festas da Praia e à Graciosa, e estou muito contente termos chegado este ano a acordo e ter voltado ao Campo Pequeno acho que marca também muito esta temporada e depois Madrid, porque estar anunciado numa Feira de San Isidro, só por si marca já a temporada.
T – Que iniciativas já tem em mente para comemorar os 10 anos de alternativa?
JRT – Como já referi as iniciativas são várias, como ir aos Açores, é ir a Madrid, é estar anunciado em duas corridas de Lisboa e estar em carteis bastantes rematados.. é essa a mente . E sem duvida que vou tourear mais em Espanha, do que tenho toureado, mas nunca deixando as feiras importantes do nosso país, que adoro cá tourear.
T – O saudoso Nené chegou a falar numa encerrona. Poderá mesmo realizar-se?
JRT – O Nené ainda falou, mas a encerrona é uma coisa que eu falo já há mais tempo, porque como qualquer outro toureiro sonha tourear seis touros. Vejo que estou preparo, vejo que tenho quadra para isso, mas não vejo que seja uma coisa em que me tenha de mandar de cabeça, vejo que se sair e se as condições estiverem reunidas porque não? Mas não vejo uma coisa que seja obrigatória ou que se não fizer que seja uma falha na minha temporada.
Sinto-me bem é nestes cartéis e eu gosto de andar a competir e com a pressão no máximo
T – Abre a temporada em Lisboa. Qual a ilusão para este regresso num cartel de competição?
JRT – Só voltar a Lisboa já é responsabilidade máxima e na inauguração ainda mais acrescida porque não estamos tão rodados e os cavalos não estão tão rodados e depois este cartel de competição máxima, acho que é com os toureiros que estão mais a dar cartas, nomeadamente o Rui Fernandes e o João Moura Jr, com uma corrida dura, que toda a gente pensava que íamos com uma corrida diferente, mas é uma corrida do Silva que está grande, gorda e por isso é de muita responsabilidade e de muita pressão, mas como muita gente sabe eu sinto-me bem é nestes cartéis e eu gosto de andar a competir e com a pressão no máximo.
T – Em termos de quadra há novidades?
JRT – Temos algumas novidades na quadra, além dos cavalos que já toureei o ano passado que são quase todos bastante novos, há um ou dois mais experientes, mas de resto é tudo cavalos novos, mas este ano já toureei um festival e uma corrida em Espanha, já estriei mais dois cavalos, um com o ferro do Pablo Hermoso e outro com o ferro do meu Pai e tenho mais dois ou três para estrear. Há muitos cavalos, depois quando sai o touro, por vezes não dá pra sacar todos, ou não dá para tourear em cavalos que gostávamos de tourear, mas a quadra é bastante completa e espero até ao fim da época estrear mais três ou quatro cavalos, porque felizmente há muitos cavalos novos.
T – Quais os cavalos que podem ser "surpresas"?
JRT – O “Equador”, toda a gente já conhece, mais conhecido por Grave, um cavalo que ganhou o ano passado o prémio de Melhor Lusitano, acho que é um cavalo que marca a diferença. O ano passado a meio da época teve uma ou duas corridas menos boas, de muito aperto, porque o sitio a que vai acho que marca mesmo a diferença. Depois temos o “Gaiato”, um cavalo com ferro de Manuel Coimbra, que eu estreei o ano passado e que este ano já ganhou o prémio de Melhor Cavalo Lusitano. O “Glorioso”, um cavalo com ferro do meu Pai, o “Granduque” que é irmão do “Glorioso” também com o ferro do meu Pai, que o ano passado tourearam e estiveram bastante bem. Este ano já estreei o “Guardiola”, um cavalo com o ferro Pablo Hermoso, que penso que é um cavalo que pode marcar a diferença, é muito novo, mas que deposito grande esperança nele e já me dá uma certa confiança. Depois mais o “Histórico”, que é um cavalo de ultimo tércio, com o ferro do meu Pai. Temos um cavalo para estrear que eu penso que também pode marcar a diferença que é um cavalo muito novo que não está ainda este ano para as corridas de grande aperto que é o “Ilusionista”, que é um cavalo com o ferro de “Ortigão Costa”. Acho que há assim muitas novidades, como um cavalo também que eu gosto bastante com o ferro Paím, que é um cavalo baio que se chama “Impostor” e mais um cavalo do ferro Ortigão que é o “Ilegível”. Acho que a quadra está bastante boa e há muitos cavalos destes, que como é lógico, não vão sair nas corridas importantes, porque ainda são novos, mas penso que com o decorrer da temporada podem ser um pouco mais conhecidos no final da temporada.
Este ano pode ser o ano definitivo para dar mais uns saltos importantes
T – E em termos concretos, o que já nos pode adiantar da sua temporada? O que já está certo e que nos possa avançar?
JRT – O que já está certo e das mais importantes já está anunciado e já todos sabem, que é a inauguração do Campo Pequeno; é a corrida de maior categoria da temporada de Lisboa, para mim, que é estar ao lado de Morante de La Puebla e José Maria Manzanares; É o estar anunciado em Madrid, que acho que isso marca mesmo a minha temporada; É o ir às Feiras da Graciosa e às Festas da Praia, nos Açores; É as nossas Feiras importantes, que é o caso de Abiul, de Coruche, e de muitas outras que estão aqui praticamente rematadas que em breve vão ser anunciadas. Mas posso também adiantar a minha presença em Salvaterra, nas Caldas da Rainha, ou seja, as corridas chaves da temporada, estou anunciado e estou integrado nos cartéis e isso para mim deixa-me bastante satisfeito. Quanto a Espanha também quero tourear mais e melhor, em praças melhores e subindo as escadas que falei no princípio da conversa e acho que este ano pode ser o ano definitivo para dar mais uns saltos importantes.
T – Quantas corridas pretende actuar?
JRT – Como lhe disse, nunca fui de tourear muito, mas se as coisas… Madrid é aqui um ponto de inflexão grande, porque, Madrid toda a gente vai ver e se as coisas correrem bem, podemos ter muitos mais contratos em Espanha e esse é o nosso objetivo, ou seja, em Espanha quanto mais tourear melhor e em Portugal anda sempre à volta das mesmas, este ano vou tourear as mesmas do ano passado mais ou menos, posso não ir a algumas, mas vou tourear praticamente as mesmas do ano passado, entre as 15 e as 20, mais às 15 do que às 20, mas acho que são as corridas que marcam a temporada e eu estou nelas e isso é que me faz cá andar. Eu não olho muito para os números, olho mais para a qualidade dos espetáculos e vou continuar assim.
T – Falou recentemente que se queria basear mais em Espanha. Porquê esta decisão?
JRT – A decisão de basear-me em Espanha, é como lhe disse, o nosso país não é muito grande, as corridas importantes também não são muitas e são muito perto umas das outras e acho que em Espanha é um sonho que tenho desde miúdo, fazer campanhas fortes em Espanha, vou toureando sempre algumas, mas este ano queria mesmo basear-me em Espanha, porque é uma conquista nova que eu quero alcançar e estar anunciado para Madrid, acho que é importante para isso, para me basear em Espanha, para poder entrar noutras feiras, para poder ir entrando como é lógico não é de um dia para o outro, nem de um ano para o outro, mas é uma coisa que eu quero desde há muito, em Portugal tenho as coisas certas, por isso é uma das coisas que quero, é mesmo Espanha.
Vê-se que o cartel em que vou, é um cartel de mérito, não é um cartel de favores nenhuns
T – Em declarações recentemente dadas ao site Mundotoro, disse “ser um sonho ir a Madrid”. Simon Casas concretizou esse sonho. Por isso perguntava-lhe foi contratado pelo seu mérito ou apenas para lhe concretizarem um sonho neste ano de aniversário de alternativa?
JRT – Penso que entrei em Madrid muito por mérito próprio, sem duvida que Simon Casas felizmente foi quem me anunciou em Madrid, isso nunca esquecerei, porque é um dos empresário para mim de maior referencia e que acho que tem marcado a Tauromaquia e vê-se onde ele é empresário, que é nas praças mais importantes e monta sempre os cartéis bastante bem e sem duvida nenhuma que vou estar sempre agradecido a Simon Casas por ter sido ele o primeiro a contratar-me para ir a Madrid. Mas acho que entro por mérito próprio, porque vê-se que o cartel em que vou, é um cartel de mérito, não é um cartel de favores nenhuns, mas sem dúvida nenhuma que vou estar sempre agradecido a Simon Casas.
T – Falando agora da sua equipa para 2018, que alterações vai haver? E quem irá agora ser o seu apoderado em Portugal?
JRT – A equipa para 2018, infelizmente o meu apoderado Nené deixou-nos. Em Espanha mudei de apoderado que é agora o Julian Alonso, que já tinha sido meu apoderado, acho que é um dos melhores taurinos de Espanha e tem depositado muita ilusão neste projeto e muita ilusão em mim e eu acho que é a altura certa para nos termos juntado outra vez, porque que podemos fazer umas coisas diferentes em Espanha e podemos ir andando mais para a frente.
Em Portugal, quando o Nené nos deixou, já tínhamos algumas coisas certas, tínhamos outras muito apalavradas e decidi mesmo não anunciar nenhum apoderado em Portugal. Eu rematei alguns cartéis, o meu Pai ajudou-me, o meu Tio Miguel Ribeiro Telles, que quero aqui agradecer-lhe por todo o empenho que tem posto na minha carreira e me tem ajudado, o próprio Julian Alonso disponibilizou-se logo e também algumas corridas e algumas pessoas vai falar ele, ou seja, vou basear-me um pouco na minha equipa que já tinha antes do Nené nos ter deixado e não vou anunciar nenhum apoderado para esta temporada em Portugal, vou-me guardar mais para o ano, até por respeito ao Nené que me via como mais um filho dele.
São 10 anos que não tenho brigas com ninguém, faço as coisas sempre o mais claro possível
T – Falando agora do cavaleiro João Telles jr, comemora 10 anos de alternativa. Como analisa esta década enquanto cavaleiro profissional?
JRT – Vejo que passaram muito rápido, porque faço 10 anos de alternativa e tenho 28 anos. Tirei a alternativa cedo, não digo cedo demais, mas sim cedo em idade, porque acho que era a altura certa para tirar a alternativa, pela rodagem que já tinha e estava com a minha carreira clarificada. Mas acho que estes 10 anos de alternativa, tenho acima de tudo respeitado o público e defendido o meu nome da melhor maneira que consigo, o melhor possível, mas só não defraudar o público e o meu nome isso já é muito importante. Vejo que são 10 anos que não tenho brigas com ninguém, faço as coisas sempre o mais claro possível, procuro fazer as coisas da melhor maneira, procuro resguardar-me sempre e dar categoria á minha profissão. Tenho conseguido dizer muitas vezes que não, que não é fácil por vezes, tenho quase sempre levado a minha para a frente, acho que isso é muito importante e espero que sejam os 10 primeiros anos de muitos mais que aí venham, porque desde pequeno, desde miúdo que deixei de estudar e que tinha sempre isto na cabeça, mas não era deixar de estudar por deixar de estudar, não, eu deixei de estudar porque tinha as coisas bem claras na minha cabeça e bem certas do que queria e todos os dias trabalho para isso e acho que isso ninguém me pode apontar, o querer, acho que o querer por muitas vezes é tudo e o que eu quero e o que eu luto felizmente tem-me levado a realizar muitos dos meus sonhos.
A temporada das conhecidas exclusivas, foi uma temporada que marcou a diferença, para mim
T – Ao longo de 10 anos muito aconteceu, mas qual foi aquele momento que na sua opinião marcou estes 10 anos?
JRT – Ao longo dos 10 anos muito aconteceu, coisas boas e coisas más, péssimas, optimas… Felizmente sou optimista e vejo as coisas más sempre para melhora-las e as coisas boas para mante-las ou repeti-las e por isso foco-me mais nas coisas boas do que nas coisas más, porque as más no dia a seguir o que tento é transforma-las em boas.
Mas acho que o que dou mais destaque é à temporada 2013, a temporada das conhecidas exclusivas, e que acho que foi uma temporada que marcou a diferença, para mim, foi uma temporada bastante redonda, daquelas que eu sonho fazer todos os anos, porque acho que essa temporada obtive triunfos que ainda hoje se falam. Tenho conseguido sempre também estrear muitos cavalos postos por mim, todos os anos e isso também é das coisas marcam nestes 10 anos que é fruto do meu trabalho e da minha equipa e da nossa dedicação. Mas felizmente tenho muitas coisas para recordar nestes 10 anos, mas tenho algumas menos boas, mas tenho, para mim uma qualidade que é… odeio perder e odeio quando as coisas me correm mal e luto todos os dias para melhorar e felizmente tive mais coisas melhores do que piores nestes 10 anos de alternativa.
T – Se estes 10 anos de alternativa fossem um livro, que titulo teria?
JRT – Vou pôr um título a falar de mim, que não gosto muito, mas acho que um título dos que poderia ser indicado era uma frase nossa "Um encontro com emoção", que é todos os dias o que eu procuro fazer quando entro em praça e dar ao público é emoção, que o público vai é pra se emocionar. A nossa profissão é uma arte e acho que é feita de sentimentos e de emoções, por isso acho que era um título que se adequava a estes 10 anos, era Um encontro com emoção.
T – Ainda falando das suas declarações ao Mundotoro, a certo ponto diz que agora se sente mais maduro enquanto toureio, o que lhe perguntava era, o que mais o fez amadurecer?
JRT – Sim, sinto-me mais maduro, porque nestes 10 anos tive muitas rodagens, toureei muitas corridas e tenho uma coisa que é das coisas que mais gosto de fazer, que é tourear em casa, toureio muitas vacas e acho que isso nos dá muito… pronto experimento muitos cavalos, monto muito e tudo isso nos dá a tal rodagem, a tal experiencia e acho que o lidar muitos touros, nos faz amadurecer e a própria vida nos faz amadurecer. Por isso dez anos não é muito, mas acho que dez anos a viver este sonho nos vai fazendo amadurecer muitas coisas, amadurecer muito as ideias, a maneira de estar na vida, a maneira de estar em praça, tudo! Acho que cada vez vamos estando mais habituados e mais rodados e isso acima de tudo, a experiencia que vou tendo é a chave para o tal amadurecimento que eu lhe falava.
T – São muitas diferenças entre o cavaleiro João Telles Jr de 2008 e o João Telles jr de 2018? Quais?
JRT – Eu acho que há muitas diferenças claras. Infelizmente e agora em tom irónico, em 2008 tinha bastante cabelo e agora não tenho quase nenhum acho que isso é uma das grandes diferenças (risos). Mas acho as diferenças são a experiência, a maneira séria de levar a minha profissão, o ser objetivo no que quero, porque sou bastante novo, mas há 10 anos então era um miúdo que me via anunciado nos cartéis todos importantes e que é logico que o nervosismo e a ansiedade de querer triunfar por vezes leva-nos a muito mais irresponsabilidade do que hoje em dia, porque graças a Deus estou anunciado importantes em Portugal desde amador, e em amador muitas vez atuei com dois profissionais, de praticante toureei sempre com dois profissionais e quando tirei a alternativa já ia com essa rodagem, mas era um miúdo, não deixava de ser um miúdo com 18 anos ver-me anunciado nisto tudo, mas acho que nisso o meu Pai tem um papel bastante importante e de muito peso na minha carreira, porque deixou de tourear para se dedicar a 100% à minha carreira e isso só lhe posso estar agradecido. Mas desde miúdo, como estou a dizer, que me vejo nesses apertos e fez com que eu nestes 10 anos de alternativa fosse, não digo mudando muita coisa, mas melhorando. Não é mudar porque, mudar como lhe disse, o toureio não é o que queremos, é o que sai, é o que sentimos, é uma arte e por isso as minhas mudanças vejo-as como melhoramentos e espero o grande público assim o veja também.
T – Quem mais influenciou o João ao longo destes 10 anos?
JRT – Sem dúvida nenhuma que a minha família, mas acima de tudo a nível profissional foi o meu Pai. Como lhe falei, o meu Pai deixou de tourear para se dedicar a mim e o dia-a-dia do meu Pai é em prol da minha carreira e em função do que vai saindo da minha carreira e isso eu só lhe posso estar mais que agradecido, a ele e a toda a minha família por verem que esta dedicação do meu pai é para meu bem, para nosso bem e para que as coisas possam correr a 1000% que é uma vida como todos sabemos muito difícil, dura, muito dura, porque o touro mete tudo no sitio, mas ter o apoio do meu pai e de toda a minha família, deixa-me completamente mais relaxado e mais confiante.
Muitas vezes incomodo, mas também muitas vezes incomodam-me porque isto nem sempre [o triunfo] é para o mesmo
T – Considera que ao longo destes dez anos incomodou muita gente com a sua irreverência na arena e com os seus triunfos?
JRT – Isso é uma coisa que a mim não me diz, não me cabe a mim dizer se incomodei ou não, mas sei que sim e sei que sou dos toureiros que quando estou anunciado, os meus colegas sabem que vou para apertar, que vou para dar tudo, e sabem que exijo muito de mim mesmo e odeio perder e vou sempre para dar o máximo, mas felizmente, já tive vários triunfos fortes, ao lado de figuras fortes e sei que é sempre… não é que seja duro, mas ficamos sempre lixados quando as coisas correm melhores aos outros, mas muitas vezes a vida é assim, hoje é para mim, amanhã é para outro, mas já tive muitos dias o sabor do triunfo e sei o que é estar na pele, quando não triunfamos, por isso posso-lhe dizer que sei que incomoda, porque muitas vezes incomodo, mas também muitas vezes incomodam-me porque isto nem sempre [o triunfo] é para o mesmo, cada corrida é uma corrida, mas sei o que é triunfarem ao nosso lado, por isso acho que sim, que incomodo eu, como todos os outros que triunfam.
T – Sente que já rompeu enquanto figura do toureio ou ainda lhe falta algo para alcançar esse estatuto?
JRT – Sinto que estou no caminho certo para chegar a figura, que é o que eu quero, mas sem dúvida que ainda me falta muita coisa. Desde pequenino, nas entrevistas em miúdo, quando perguntavam isso, porque toda a gente pergunta o que queres ser, e o que eu quero ser na festa é marcar uma temporada da tauromaquia, ser máxima figura do toureio e que daqui a muitos anos falem de mim, como eu ouço falar das maiores figuras da história, quero ficar na história do toureio, mas sinto que ainda me falta muito mais coisas, do que aquelas que já tenho.
T – O que falta aos cavaleiros de dinastia e que são da sua geração para realmente se afirmarem enquanto figuras do toureio?
JRT – Eu acho que da minha geração há muito bons toureiros, bastante bons mesmo, acho que como todos sabemos, não vivemos na melhor altura a nível mundial de tudo, a crise é mundial, mas também vejo que é cíclico, tudo é cíclico na vida e apanhamos aqui um bocadinho a fase má da tauromaquia, a fase que veio muito abaixo e acho que temos sempre que nos juntar todos e defender a tauromaquia, é uma coisa que todos dizemos nas entrevistas e todos a gente fala mas acima de tudo o que falta nos toureiros da nossa geração era outros tempos, era as pessoas irem aos touros, era haver dinheiro, era touros estarem na moda, que agora não estão, porque toureiros bons isso sem duvida nenhuma que há muitos na nossa geração e eu acho que o que falta é isso mesmo, é o toureio estar na moda, que infelizmente hoje em dia não está. Como disse isto é cíclico acho que já está a melhorar e o não haver muitas corridas, que foi uma coisa que sempre defendi, e que agora por motivos piores está a acontecer, que é por não darem mesmo as corridas, mas eu acho que é uma coisa que tinha de ser, tinha que ser uma iniciativa própria de quem as realiza e de quem as toureia e se calhar estão a sentir na pele de não haver, mas eu acho que não haver tantas corridas, dá mais categoria à nossa festa.
T – É certo que o futuro a Deus pertence, mas como prevê que seja os seus próximos 10 anos de toureio?
JRT – Sim, como disse o futuro a Deus pertence, mas espero que os meus próximos 10 anos de alternativa sejam muitos melhores que estes primeiros 10 anos, porque vejo que vai havendo coisas diferentes para melhor. Há 10 anos sonhava com estar anunciado em Madrid e foi passado esses dez anos, mas acho que isto é o ponto para poder entrar noutras feiras tão importantes de Espanha que eu tanto quero, para poder continuar a manter-me nestes cartéis de máxima competição em Portugal, para ser o nome que chame a atenção e espero que estes próximos 10 anos seja isto tudo a dobrar, espero que seja tudo a melhorar e é para isso que eu trabalho todos os dias e que me levanto todos os dias é com essa ilusão.
T – Falando agora no geral, o actual momento da tauromaquia em Portugal?
JRT – Como sabe, e eu não vou esconder que o momento da nossa tauromaquia não é de todo o melhor, acho que teve que isto ficar muito mau para pensarem, para verem e para abrirem os olhos neste caminho que acho que já está a melhorar, mas está a melhorar muito lentamente, porque isto para o mau é rapidíssimo, mas para o bom demora muito tempo, mas eu vejo que as pessoas já estão a querer melhorar, mas não é de todo o melhor que a festa atravessa, mas com a nossa dedicação de todos conseguimos mudar, porque repare, as corridas bem montadas e as tradicionais quase sempre tão cheias ou esgotadas, o ano passado toureei muitas corridas esgotadas, a maioria cheias, acho que quando as corridas estão bem montadas, rematadas e é data forte de tradição, acho que continua em grande a nossa festa, acho que muitas vezes são corridas a mais e acima de tudo o número de corridas teria de ser reduzido e agora infelizmente por um lado e felizmente por outro, está-se a reduzir e acho que há mais seleção e isso é o importante, porque tem de haver pouco e bom, para que todo o mundo a deseje.
T – O que mudaria já Tauromaquia portuguesa?
JRT – Olhe, mudar, mudar, não mudava nada radicalmente, tentava melhorar ao máximo e acho que passa pela união e pela seleção, acho que temos de ser muito mais seletivos, temos de ser muito mais realistas, mas acima de tudo o que mudava mesmo era dar só as corridas nas datas importantes e tradicionais, porque isso ia engrandecer muito a nossa festa.
Nossa festa acho que é muito pequena e de gente muito curta
T – Como vê o trabalho realizado pelas várias associações representativas do sector, na defesa dos seus associados e consequentemente na defesa da festa?
JRT – Vejo que tem sido um trabalho bastante bom e duro, é um trabalho que todos nós criticamos, eu não critico porque estou um bocadinho dentro disso, mas ouço muitas criticas e leio muita coisa contra as nossas associações, como pro exemplo à Protoiro, mas acho que as nossas associações têm feito um papel fundamental, que pode não ser dentro da festa, porque a nossa festa acho que é muito pequena e de gente muito curta, mas vejo que para fora têm feito um trabalho espetacular e se calhar graças às nossas associações é que se tem conseguido manter tanta coisa na tauromaquia, têm feito papeis fundamentais e vejo que a nossa tauromaquia sem eles poderia estar muito pior e este melhoramento deve-se também muito a eles, é um trabalho que nem todos vimos, nem todos sabemos mas quem se informar e quem se vir a coisa pelo lado positivo sabe que o trabalho deles é fundamental.
T – Agora se me permite falar um pouco mais a nível pessoal, quem é João Telles Jr. fora das arenas e o que gosta de fazer?
JRT – Fora das arenas sou um bocadinho o que sou lá dentro, porque muda em nada, porque sou uma pessoa bastante amiga, divertido… o que gosto mais de fazer, sem dúvida nenhuma é montar a cavalo, é de tourear vacas, adoro tourear vacas, é do campo, adoro estar em família. Mas o que gosto mais de fazer, não sai muito do meu dia-a-dia da praça sou feliz com o que faço, faço o que gosto, tenho essa sorte que muitas pessoas não têm e eu desde miúdo faço o que gosto, mas fora dos touros o que gosto mais é do Benfica, adoro futebol, mas a minha vida é em prol da minha profissão, mas não o faço por frete, faço por gosto e tenho essa sorte de fazer o que mais gosto na vida.
T – Como é habitualmente um dia com treinos? Quantas horas treina?
JRT – Olhe um dia de treino cá em casa é… levanto-me cedo, começo a montar sempre ás 9, 9.30 e daí montamos até à hora de almoço, até à 13,30 por aí e depois à tarde começamos a montar depois de almoço até ao fim do dia, o nosso trabalho não é uma coisa de horários, há sempre trabalho, há sempre mais um cavalo para montar e quando acaba é quando as coisas estão bem, não é quando é horas. Toureamos muita vaca, porque felizmente temos essa possibilidade, mas costumamos montar e dar tourinha aos cavalos duas a três vezes por semana, ou todos os dias, mas duas ou três vezes por semana toureamos vacas, que isso é que é o salto para os cavalos andem para a frente, é o que vão fazer em praça e esse convívio com o touro ou com a vaca é o que nos faz relaxar e a mim é o que me faz ser feliz, é chegar ao fim do dia ver que os cavalos estão todos bem e que está tudo no caminho certo. Um dia de treino é um bocadinho isto. Gosto muito de montar no campo, tourear a campo e acho que todas essas experiencias só nos fazem ter mais conhecimentos das investidas dos touros, das distâncias, de tudo… por isso um dia de treinos é sempre á volta dos cavalos, do campo e dos touros.
Uma filha, sou-lhe sincero, não gostava nada que fosse toureira
T – Quando um filho seu, chegar ao sua beira e lhe disser que quer ser toureiro que lhe vai dizer?
JRT – Todos nós dizemos que, ai quando um filho meu quiser ser toureiro… eu não quero que seja toureiro, eu sou-lhe sincero, se ele me disser que quer ser toureiro, sem dúvida nenhuma que o vou apoiar e vou fazer tudo por tudo, para lhe dar as melhores condições. Se ele me disser, Pai quer ser isto, que eu consiga fazer com que ele seja o que me vai pedir.
Digo-lhe já, nós temos grandes toureiras na nossa tauromaquia, mas uma filha, sou-lhe sincero, não gostava nada que fosse toureira, gostava sem duvida que montasse a cavalo, que gostasse do campo, que gostasse das coisas que eu gosto, mas sinceramente não gostava que fosse toureira, porque acho que é uma profissão de bastante risco e não me via como pai de uma toureira, de um toureiro, como é lógico… gostava muito, é uma coisa de família e se ele me pedir, sem duvida que o vou apoiar e dar-lhe tudo o que conseguir para que seja toureiro e máxima figura.
T – Qual a mensagem que deixa aos leitores do Toureio.pt?
JRT – A todos os leitores do site e a todos os aficionados, quero desejar uma temporada de bastantes êxitos e que vá tudo aos touros e que se divirtam e que acima de tudo que defendam a tauromaquia, que atravessamos aqui um momento complicado, mas que todos juntos acho que conseguimos dar aquele salto, por isso desejo a todos as maiores felicidades e agradecer esta entrevista e desejar as maiores felicidades do mundo ao Toureio.pt